Desvendando a mente Workaholic: Além das horas extras

Você já se perguntou o que impulsiona alguém a trabalhar até o ponto de exaustão, sacrificando saúde, relacionamentos e momentos de lazer? Essa é a personalidade de um Workaholic que iremos explorar neste artigo. Como psiquiatra, tenho o privilégio de desvendar os mistérios da mente humana, e hoje convido você a entender uma das personalidades mais enigmáticas e controversas da nossa era moderna.

Prepare-se para buscar as verdades por trás da natureza da psique do workaholic, onde dedicação e obsessão dançam uma valsa complexa, e onde o sucesso profissional muitas vezes mascara uma luta interna silenciosa. Vamos juntos desvendar os segredos, motivações e armadilhas que moldam a vida daqueles para quem o trabalho se tornou mais que uma ocupação – tornou-se uma identidade.

O fascinante mundo do Workaholic

Imagine uma pessoa que vive, respira e sonha com trabalho. Alguém que encontra mais conforto em uma mesa de escritório do que em sua própria cama. Esta é a essência do workaholic – um indivíduo cuja relação com o trabalho transcende as fronteiras do comum e adentra o território do compulsivo.

Na nossa sociedade atual, onde a produtividade é quase um mantra, o workaholic é muitas vezes visto como um modelo de dedicação. Mas será que essa dedicação extrema é realmente saudável ou produtiva? Estima-se que cerca de 10% da população adulta em países industrializados possa ser classificada como workaholic. É um número significativo que nos faz questionar: o que impulsiona essas pessoas a mergulharem tão profundamente no trabalho?

Vamos desvendar estes mistérios. Venha comigo!

Retrato de uma personalidade Workaholic

Vamos pintar um retrato do workaholic típico. Imagine Sarah, uma executiva de 35 anos. Ela é sempre a primeira a chegar ao escritório e a última a sair. Seus fins de semana são preenchidos com e-mails e relatórios. Férias? Sarah não tira uma há anos. Ela sente uma inquietação constante quando não está trabalhando, como se estivesse perdendo algo crucial.

Os workaholics como Sarah compartilham certas características:

No ambiente de trabalho, o workaholic pode parecer o funcionário ideal – sempre disponível, altamente produtivo, disposto a fazer horas extras. Em casa, no entanto, a história é diferente. Relacionamentos sofrem, hobbies são abandonados, e o autocuidado torna-se uma prioridade distante.

A pessoa cujo trabalho se tornou sua própria identidade tem sua vida pessoal muito maltratada e sofrida. Porém, para ele, naquele momento, isso não importa. Espere até ser demitido e sua identidade arrancada por terceiros. Mas calma lá, vamos chegar nisso daqui a pouco.

As raízes do comportamento Workaholic

Seria injusto dizer que todo comportamento workaholic nasce de um lugar negativo. Muitos workaholics são genuinamente apaixonados pelo que fazem. Eles sentem uma empolgação genuína ao enfrentar novos desafios e uma satisfação profunda ao completar projetos.

Alguns são movidos por um desejo ardente de fazer a diferença no mundo. Uma personalidade muito conhecida é o Elon Musk. Seu fogo ardente pelo sucesso o motiva e o mantém em seu direcionamento (e sem abrir mão da sua vida pessoal). Além disso, pense em cientistas trabalhando incansavelmente para encontrar a cura para doenças ou empreendedores sociais dedicando cada momento para melhorar a vida dos menos afortunados.

Há também aqueles que buscam reconhecimento e realização. O trabalho torna-se um palco onde podem demonstrar suas habilidades e receber aplausos por suas conquistas. Parece uma coisa boba para alguns, mas é algo muito importante para outros. E não devemos nunca minimizar os sentimentos e o que é importante para o outro, concorda?

No entanto, por trás dessa fachada de dedicação e paixão, muitas vezes se escondem motivações mais complexas e, às vezes, dolorosas.

Exemplo 1: Baixa autoestima

A baixa autoestima, muitas vezes enraizada em experiências passadas ou expectativas internalizadas, é um fator crucial na psique do workaholic. Para esses indivíduos, o trabalho não é apenas uma carreira, mas uma fonte vital de validação externa. Imagine uma pessoa com um vazio emocional profundo, constantemente buscando preenchê-lo com realizações profissionais. Cada elogio recebido de um superior, cada projeto concluído com sucesso, cada promoção alcançada age como um curativo temporário sobre uma ferida emocional que nunca cicatriza completamente.

Este padrão cria um ciclo vicioso perigoso. O workaholic busca incessantemente novos desafios e conquistas, não pela satisfação intrínseca que eles proporcionam, mas pela breve sensação de valor pessoal que acompanha cada vitória. Assim, é como tentar preencher um poço sem fundo com gotas d’água – por mais que se esforce, a sensação de vazio sempre retorna, impulsionando-o a trabalhar ainda mais. Esta dinâmica pode levar a um estado de exaustão emocional crônica, onde o indivíduo se sente incapaz de derivar satisfação genuína de suas conquistas, sempre buscando a próxima fonte de validação.

Nem preciso dizer o quão importante é um psicólogo aqui para ajudar a pessoa a encontrar seu próprio valor e recuperar sua autoestima, que – inclusive – serão importantes para expandir seu sucesso.

Exemplo 2: Medo

O medo, por sua vez, atua como um motor silencioso mas poderoso no comportamento workaholic. Este não é um medo superficial, mas um terror existencial profundo que permeia vários aspectos da vida. O medo do fracasso não é apenas sobre não atingir metas profissionais; é um pavor de ser exposto como inadequado ou incompetente, de não estar à altura das expectativas – sejam elas reais ou imaginárias. O medo da insignificância reflete uma ansiedade mais profunda sobre o propósito e o valor da própria existência. Para o workaholic, a ideia de não deixar uma marca significativa no mundo através do trabalho pode ser paralisante.

Além disso, o medo de enfrentar problemas pessoais ou emocionais transforma o trabalho em um refúgio paradoxal. O ambiente profissional, com suas estruturas, regras e expectativas claras, oferece uma sensação ilusória de controle em um mundo que, de outra forma, parece caótico e imprevisível. No trabalho, o workaholic sabe exatamente o que é esperado dele, como se comportar, como “vencer”. Esta previsibilidade contrasta fortemente com a complexidade e a incerteza das relações pessoais e do autoconhecimento emocional.

Assim, o workaholic se refugia em longas horas de trabalho, projetos intermináveis e responsabilidades crescentes, não apenas para fugir de seus medos, mas para criar um mundo onde esses medos parecem menos ameaçadores. É uma estratégia de sobrevivência emocional que, ironicamente, muitas vezes leva ao isolamento e ao aprofundamento dos próprios problemas que se tenta evitar. O desafio real para esses indivíduos é aprender a enfrentar seus medos e construir uma autoestima baseada em fundamentos mais sólidos e diversificados do que apenas o sucesso profissional.

Aqui também vou falar da importância de um psicólogo para ajudar a acolher, enfrentar e superar medos e fazer a vida muito mais leve. Claro que para o workaholic isso tudo é uma balela e ele tá fazendo o que é certo. O trabalho e tudo mais é mais importante. E a ajuda de pessoas próximas, que indicam e mostram o desequilíbrio e até a falta, fazem diferença.

Um estudo de caso rápido

Recebi em meu consultório um paciente que foi pela “pressão da esposa”, que ele falava que ela era “chata” por ficar falando que ele tem que parar de trabalhar. Se ele reduzisse o trabalho, quem iria pagar as contas?

A motivação frontal era a de um homem que queria ganhar dinheiro para manter a sua família. Porém, depois de um tempo de conversa, descobre-se que ele não quer ficar em casa, pois seu filho exige muito sua atenção. Ele quer ler, quer assitir um seriado, quer ter a paz que tinha antes. Mas o filho não deixa. Então a cada dia ele foi ficando mais no trabalho, mais e mais. Até que se ausentou de casa. Saia de casa antes do filho acordar e voltava depois que ele dormia. Porém, isso também afetou seu relacionamento com a esposa. “Muito complexo” ele dizia.

Bom, o homem mascarou seus problemas pessoais e emocionais através de uma personalidade que trabalha muito par trazer dinheiro para casa. E quase ficou sem casa, sem esposa e filho. Até perceber o que estava deixando para trás… mas o resultado magnífico de prosperidade, felicidade e relacionamentos saudáveis, deixo para outro momento. Estamos personificando a identidade workaholic aqui.

A Jornada de autosabotagem do Workaholic

O workaholic frequentemente se encontra preso em um ciclo vicioso de autosabotagem. Quanto mais trabalham, mais exaustos ficam. Quanto mais exaustos ficam, mais sentem que precisam trabalhar para compensar. É como tentar encher um balde furado – não importa quanta água você despeje, nunca estará cheio.

Este ciclo leva a uma negligência sistemática do autocuidado. Sono, exercícios, alimentação saudável e tempo para relaxar tornam-se luxos dispensáveis. Ironicamente, essa negligência acaba por minar a própria coisa que o workaholic mais valoriza: sua capacidade de trabalhar eficientemente.

Aqui está o paradoxo cruel do workaholic: quanto mais horas dedicam ao trabalho, menos eficientes se tornam. A criatividade diminui, erros aumentam, e a capacidade de tomar decisões sábias é comprometida. É como dirigir um carro em alta velocidade com o tanque quase vazio – você pode ir longe por um tempo, mas eventualmente, o motor vai parar.

Workaholic: Uma busca disfarçada

Por trás da fachada de dedicação extrema ao trabalho, muitas vezes se esconde uma busca profunda por algo mais. Para muitos workaholics, o trabalho torna-se um substituto para necessidades emocionais não atendidas.

Alguns buscam no trabalho um senso de propósito e significado que sentem faltar em outras áreas de suas vidas. O trabalho torna-se uma missão, uma forma de deixar uma marca no mundo.

Para outros, o trabalho é uma fonte de identidade. Sem ele, sentem-se perdidos, sem saber quem realmente são. A pergunta “O que você faz?” torna-se não apenas uma questão sobre ocupação, mas sobre a própria essência do ser.

E há aqueles para quem o trabalho preenche um vazio emocional. As longas horas no escritório, as intermináveis listas de tarefas, tornam-se um substituto para conexões emocionais profundas que podem estar faltando em suas vidas pessoais.

Assim, eles vão deixando a vida de lado para amortizar seus sentimentos com a ordem e estrutura do trabalho, da mesma maneira que um individuo com dependência química, com transtorno aditivo por jogos ou indivíduo que faz exercícios físicos em excesso (até a exaustão).

Ser Workaholic como mecanismo de fuga

O comportamento workaholic também pode ser uma forma sofisticada de fuga. Ao mergulhar de cabeça no trabalho, muitos evitam enfrentar questões pessoais ou familiares dolorosas.

O trabalho torna-se um escudo contra a intimidade. Afinal, é mais fácil lidar com planilhas e relatórios do que com emoções complexas e relacionamentos desafiadores. A agenda lotada torna-se uma desculpa perfeita para evitar confrontos emocionais ou momentos de vulnerabilidade.

Além disso, para alguns, o tempo livre é assustador. O silêncio e a quietude que vêm com o descanso podem ser ensurdecedores para quem está acostumado ao barulho constante da atividade. O trabalho preenche esse vazio, mantendo à distância pensamentos e sentimentos incômodos.

Acho que já ficou bem claro, né? Vamos falar de equilíbrio e vida.

O caminho para o equilíbrio

A boa notícia é que é possível quebrar o ciclo do comportamento workaholic e encontrar um equilíbrio mais saudável. O primeiro passo é o reconhecimento. Como em qualquer jornada de mudança, admitir que existe um problema é crucial.

Aqui estão algumas estratégias para redefinir sua relação com o trabalho:

  1. Estabeleça limites claros: Defina horários de trabalho e stick to them. Quando o expediente acabar, desligue as notificações de trabalho.
  2. Cultive outros aspectos da sua vida: Invista tempo em hobbies, relacionamentos e atividades que não estejam relacionadas ao trabalho.
  3. Pratique mindfulness: Aprenda a estar presente no momento, seja no trabalho ou no lazer.
  4. Redefina o sucesso: Sucesso não é apenas sobre conquistas profissionais. Inclua saúde, relacionamentos e crescimento pessoal em sua definição de sucesso.
  5. Aprenda a delegar: Você não precisa fazer tudo sozinho. Confie em sua equipe e compartilhe responsabilidades.
  6. Priorize o autocuidado: Faça do sono, exercício e alimentação saudável prioridades não negociáveis.

Lembre-se, o objetivo não é parar de trabalhar duro ou perder a paixão pelo que você faz. É encontrar um equilíbrio que permita que você seja produtivo e realizado no trabalho, sem sacrificar outras áreas importantes da sua vida. Faz sentido?

A melhor parte é que você irá descobrir que quanto mais felizes e completos estamos em outras áreas da vida. Mais somos produtivos, divertidos e atraímos coisas boas.

Trabalhar muito não é sinal de prosperidade. Trabalhar de forma inteligente e tirar os momentos certos para cada item de valor da sua vida, isso sim é prosperidade.

Quando buscar ajuda profissional?

Às vezes, quebrar padrões profundamente enraizados de comportamento workaholic requer ajuda profissional. Aqui estão alguns sinais de que pode ser hora de buscar a orientação de um terapeuta ou psicólogo:

  • Você sente ansiedade ou pânico quando não está trabalhando
  • Seu comportamento workaholic está causando conflitos significativos em seus relacionamentos
  • Você está experimentando sintomas físicos como exaustão crônica, dores de cabeça frequentes ou problemas digestivos
  • Você usa o trabalho para evitar lidar com problemas emocionais ou traumas
  • Você sente que perdeu o controle sobre seus hábitos de trabalho

A psicoterapia pode oferecer um espaço seguro para explorar as raízes do seu comportamento workaholic e desenvolver estratégias saudáveis para lidar com o estresse e as demandas do trabalho.

Aqui no Instituto Alceu Giraldi temos uma equipe de médicos psiquiatras e psicólgos especializados e prontos para te ajudar. Esteja você em qualquer parte do mundo (ou fora daqui a pouco – dependendo do Elon Musk), graças a Telemedicina.

Transformando a energia workaholic em vida equilibrada

Ao chegarmos ao final desta exploração da mente workaholic, quero deixar você com uma mensagem de esperança e possibilidade. O comportamento workaholic não é uma sentença de vida. É possível canalizar essa energia, dedicação e paixão que você tem pelo trabalho para criar uma vida mais rica e equilibrada.

Imagine usar essa mesma intensidade para cultivar relacionamentos profundos, para explorar novos hobbies, para cuidar da sua saúde física e mental. A determinação que o levou ao sucesso profissional pode ser a mesma força que o conduzirá a uma vida pessoal mais satisfatória.

O desafio – e a oportunidade – é encontrar um equilíbrio onde o trabalho enriquece sua vida, em vez de consumi-la. Onde sua identidade é multifacetada, não definida apenas por sua ocupação. Onde o sucesso é medido não apenas por conquistas profissionais, mas pela riqueza de suas experiências e relacionamentos.

Lembre-se, você não é seu trabalho. Você é um ser humano complexo, fascinante e multidimensional. Dê a si mesmo a permissão para explorar todas essas dimensões. O mundo precisa não apenas do seu trabalho, mas de você – inteiro, equilibrado e florescente em todos os aspectos da sua vida.

A jornada de um workaholic para uma vida mais equilibrada pode ser desafiadora, mas é incrivelmente gratificante. Cada passo em direção ao equilíbrio é uma vitória. Celebre essas vitórias. E lembre-se, você não está sozinho nessa jornada. Há ajuda disponível, e um futuro brilhante e equilibrado aguarda aqueles que têm a coragem de buscá-lo.

Que você encontre não apenas sucesso, mas também paz, alegria e realização em todas as áreas da sua vida. Você merece nada menos que isso.

Dr. Thiago Dias

Dr. Thiago Dias

Médico Psiquiatra, Terapeuta Gestalt e Co-fundador do Instituto Corpo & Mente. Após muitos anos trabalhando com patologias mentais e ajudando seus clientes a voltarem para sua vidas, compreendeu que o sucesso de seus pacientes acontece quando olham para a saúde, qualidade de vida e bem-estar. Assim, facilitando o tratamento e remissão.

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