Como psiquiatra, gostaria de compartilhar com você algumas verdades importantes sobre o burnout. Estas reflexões são fruto de anos de experiência clínica e pesquisa, e espero que ajudem a desmistificar algumas concepções erradas sobre esta condição tão prevalente em nossa sociedade.
Antes de continuarmos saiba que montei um grande guia com todas as informações que você precisa para o primeiro passo em direção ao tratamento do burnout. Acesse o Guia completo sobre Burnout: Entenda, previna e supere o Esgotamento Profissional. Tudo o que você precisa para começar sua jornada de autodescoberta e tratamento desse incêndio que nos consome por dentro, não é mesmo?
Mas, vamos lá para as 10 verdades sobre burnout!
1. O Burnout não é exclusivo de executivos
É um erro comum pensar que apenas profissionais em cargos de alto escalão sofrem de burnout. Na realidade, o burnout está intrinsecamente ligado ao nosso relacionamento com o trabalho, independentemente da posição hierárquica. Ele surge da interação complexa entre o ambiente de trabalho e nossos fatores de risco individuais.
Tenho visto em minha prática clínica casos de burnout em uma ampla gama de profissões: desde profissionais de limpeza e seguranças até policiais, bombeiros e professores. Até mesmo nós, profissionais da saúde mental – psicólogos, terapeutas e psiquiatras – não estamos imunes.
O burnout não discrimina por cargo ou salário; ele afeta qualquer pessoa que esteja cronicamente exposta a estresse ocupacional sem os recursos adequados para lidar com ele.
Essa é uma verdade e que fico indignado quando uma pessoa menospreza a outra e diz: mas você trabalha com tal coisa e isso é muito tranquilo, é muito fácil. Aham. De novo, é sobre a complexa interação entre trabalho e o indivíduo. Não há como alguém supor nada.
Quem fala isso tem que ler o nosso Guia completo sobre Burnout: Entenda, previna e supere o Esgotamento Profissional. Não é verdade?
02. O tratamento do burnout vai além dos medicamentos
Muitos pacientes chegam ao meu consultório acreditando que a solução para o burnout está em uma receita médica. Embora medicamentos possam ter um papel importante em alguns casos, especialmente quando há comorbidades como depressão ou ansiedade, o tratamento do burnout é muito mais abrangente.
A abordagem terapêutica do burnout geralmente envolve uma combinação de psicoterapia, mudanças no estilo de vida e, quando necessário, intervenções no ambiente de trabalho. A psicoterapia ajuda a desenvolver estratégias de enfrentamento mais eficazes e a reconstruir uma relação mais saudável com o trabalho. Mudanças no estilo de vida, como melhora na qualidade do sono, alimentação balanceada e exercícios regulares, são fundamentais para restaurar o equilíbrio físico e mental.
Em muitos casos, também é necessário abordar fatores organizacionais, o que pode envolver negociações com empregadores para ajustar cargas de trabalho ou implementar práticas mais saudáveis no ambiente profissional. O objetivo é criar uma abordagem holística que trate não apenas os sintomas, mas também as causas subjacentes do burnout.
03. A culpa do burnout não é exclusivamente do chefe ou do trabalho
É tentador apontar o dedo e culpar exclusivamente fatores externos pelo burnout, como um chefe exigente ou um ambiente de trabalho tóxico. Embora esses fatores certamente possam contribuir, a realidade é mais complexa. O burnout geralmente resulta de uma interação entre fatores ambientais e individuais.
Em minha experiência clínica, observo frequentemente que duas pessoas com características e históricos similares, trabalhando no mesmo ambiente, podem ter respostas muito diferentes ao estresse ocupacional. Isso ocorre porque nossos fatores de risco individuais – como personalidade, história de vida, estratégias de enfrentamento e resiliência – desempenham um papel crucial no desenvolvimento do burnout.
Reconhecer essa complexidade é importante porque nos permite abordar o burnout de maneira mais abrangente. Não se trata apenas de mudar o ambiente de trabalho, mas também de desenvolver habilidades pessoais e estratégias para lidar melhor com o estresse. É um trabalho que envolve tanto mudanças externas quanto um profundo autoconhecimento e desenvolvimento pessoal.
Inclusive gosto de apontar que se a gente não desenvolve as habilidades sociais e profissionais necessárias, muda-se o emprego e os problemas seguem a pessoa. Por isso, não é só o local, mas esse fatores individuais.
04. O perfeccionismo é um fator de risco, mas não o único
O perfeccionismo é frequentemente associado ao burnout, e com razão. Em ambientes de trabalho com altos níveis de estresse, metas exigentes e cobranças constantes, os perfeccionistas tendem a se sobrecarregar mais facilmente. Sua busca incessante pela perfeição pode levar a um ciclo vicioso de exaustão e insatisfação.
No entanto, é importante entender que o burnout não é exclusivo dos perfeccionistas. Outros traços de personalidade e padrões de comportamento também podem aumentar o risco. Por exemplo, indivíduos com dificuldade em estabelecer limites, aqueles com uma necessidade excessiva de aprovação externa, ou pessoas com baixa autoestima também podem ser particularmente vulneráveis.
Além disso, fatores como dificuldade em delegar tarefas, tendência a assumir responsabilidades excessivas, ou uma incapacidade de desconectar-se do trabalho durante o tempo livre podem contribuir significativamente para o desenvolvimento do burnout. O importante é reconhecer que cada indivíduo tem sua própria combinação única de fatores de risco.
05. Ter burnout não significa incompetência
Uma das crenças mais prejudiciais que vejo em meus pacientes com burnout é a ideia de que seu esgotamento é um sinal de incompetência ou fraqueza. Nada poderia estar mais longe da verdade. Na realidade, o burnout muitas vezes afeta justamente aqueles que são extremamente dedicados e comprometidos com seu trabalho.
O que geralmente observo é que as pessoas que desenvolvem burnout estão tão preocupadas em fazer um bom trabalho, em atender às expectativas (muitas vezes irrealistas) e em provar seu valor, que acabam abrindo mão de seu próprio bem-estar. Elas vivem uma vida tão focada no trabalho que, eventualmente, seus recursos emocionais e físicos se esgotam.
O burnout não é um reflexo de suas habilidades ou de seu valor como profissional. Pelo contrário, é um sinal de que você precisa reajustar seu equilíbrio entre vida profissional e pessoal. É uma oportunidade para reavaliar suas prioridades, estabelecer limites mais saudáveis e desenvolver estratégias de autocuidado mais eficazes. Lembre-se: cuidar de si mesmo não é egoísmo, é uma necessidade para manter uma carreira sustentável e uma vida plena.
06. O burnout não é apenas “estresse normal do trabalho”
Muitas vezes, ouço pacientes minimizando seus sintomas, dizendo que é apenas o “estresse normal do trabalho”. É crucial entender que o burnout vai muito além do estresse cotidiano. Enquanto o estresse normal pode ser superado com um bom descanso ou férias, o burnout é um estado de exaustão crônica que não se resolve facilmente.
O burnout se caracteriza por um esgotamento emocional profundo, uma sensação de despersonalização em relação ao trabalho e uma diminuição significativa da eficácia profissional. Diferentemente do estresse comum, o burnout pode levar a uma perda de significado no trabalho e até mesmo a uma crise de identidade profissional.
Se você sente que seu esgotamento persiste mesmo após períodos de descanso, se nota uma crescente apatia em relação ao seu trabalho ou se percebe uma queda constante em sua performance, é importante considerar a possibilidade de burnout e buscar ajuda profissional.
07. O burnout não acontece da noite para o dia
O desenvolvimento do burnout é geralmente um processo gradual, que pode levar meses ou até anos para se manifestar completamente. É como uma vela que vai queimando lentamente até que, de repente, percebemos que a chama está prestes a se apagar.
Este processo lento muitas vezes dificulta o reconhecimento do problema. As pessoas tendem a se adaptar gradualmente ao aumento do estresse, normalizando sintomas que deveriam ser vistos como sinais de alerta. É comum ouvir pacientes dizerem: “Eu achei que era apenas uma fase difícil que iria passar”.
Por isso, é crucial estar atento aos sinais precoces de burnout: mudanças sutis no humor, diminuição do entusiasmo pelo trabalho, fadiga persistente que o descanso não resolve. Reconhecer esses sinais precocemente pode permitir intervenções mais eficazes e prevenir o desenvolvimento de um quadro mais grave.
Existem diversas estratégias que são possíveis desenvolver que envolvem saúde física e mental, que restringem o avanço do burnout. Há palestras que dou em empresas que explico que hábitos e comportamentos que são saudáveis que podem ajudar a ser mais produtivo, mais eficiente e menos estressado.
Mas, comece lendo o Guia do Burnout e tenha uma ideia completa aqui.
08. A recuperação do burnout leva tempo
Assim como o burnout não se desenvolve da noite para o dia, sua recuperação também é um processo que leva tempo. Muitos pacientes chegam esperando uma solução rápida, mas é importante entender que a recuperação do burnout é uma jornada.
Este processo envolve não apenas a recuperação física e emocional, mas também uma reavaliação profunda de valores, prioridades e padrões de comportamento. Pode ser necessário reaprender a estabelecer limites saudáveis, desenvolver novas estratégias de enfrentamento do estresse e, em alguns casos, até mesmo reconsiderar escolhas de carreira.
A paciência é fundamental neste processo. Assim como uma planta precisa de tempo para se recuperar após um período de seca, nosso corpo e mente também precisam de tempo para se regenerar após o burnout. Com o tratamento adequado e mudanças de estilo de vida, a maioria das pessoas consegue se recuperar completamente, mas é um processo que pode levar meses.
09. O burnout pode afetar todas as áreas da vida
Embora o burnout esteja primariamente relacionado ao trabalho, seus efeitos frequentemente transbordam para outras áreas da vida. Não é incomum ver pacientes cujos relacionamentos pessoais, saúde física e bem-estar geral foram significativamente afetados pelo burnout.
O esgotamento emocional pode levar a um distanciamento nas relações pessoais, a irritabilidade pode causar conflitos familiares, e a fadiga crônica pode impedir o engajamento em atividades de lazer e autocuidado. Além disso, o estresse prolongado associado ao burnout pode comprometer o sistema imunológico, levando a uma maior suscetibilidade a doenças.
Por isso, o tratamento do burnout deve considerar o indivíduo como um todo, abordando não apenas os aspectos profissionais, mas também o impacto na vida pessoal, nas relações e na saúde geral. A recuperação muitas vezes envolve reconstruir um equilíbrio em todas essas áreas.
10. Prevenir é melhor (e mais fácil) que tratar
Como psiquiatra, não posso enfatizar o suficiente a importância da prevenção quando se trata de burnout. Embora seja possível se recuperar do burnout, preveni-lo é muito mais fácil e menos doloroso do que tratá-lo depois que se instala completamente.
A prevenção do burnout envolve desenvolver hábitos de autocuidado consistentes, aprender a reconhecer os primeiros sinais de estresse excessivo e tomar medidas proativas para manter o equilíbrio entre trabalho e vida pessoal. Isso pode incluir práticas como meditação, exercícios regulares, manter hobbies fora do trabalho e estabelecer limites claros entre vida profissional e pessoal.
Além disso, é crucial cultivar um ambiente de trabalho saudável. Isso pode envolver conversas difíceis com superiores sobre expectativas realistas, buscar apoio de colegas e, se necessário, considerar mudanças de carreira se o ambiente atual for cronicamente tóxico.
Lembre-se: cuidar de sua saúde mental não é um luxo, é uma necessidade. Investir tempo e energia na prevenção do burnout não é apenas benéfico para você, mas também para sua carreira, seus relacionamentos e sua qualidade de vida geral.
Quero tratar do burnout, como faço?
Nossa equipe está pronta para te ajudar em qualquer lugar do mundo! Sim, com a telemedicina, nós psiquiatras e psicólogos conseguimos te ajudar onde quer que você esteja. Temos pacientes ao redor do mundo, além de nossa clínica em São Caetano do Sul.
Se sente que precisa de um direcionamento, uma avaliação e até o próprio tratamento em si. Entre em contato com a gente que iremos te ajudar em sua jornada de retorno ao bem-estar físico, mental e emocional. Além de ajudá-lo a reconquistar seu relacionamento com o trabalho e identidade.
Espero que esse texto tenha sido de clareza e trazido leveza para esse assunto que esquenta muitas cabeças.