O Papel dos Pais no Tratamento Psiquiátrico Infantil

O trabalho psiquiátrico com crianças e adolescentes é considerado desafiador. Além disso, é recusado por muitos profissionais, pois demanda não só o tratamento dos jovens, como também dos pais. E é sobre isso que eu quero falar no texto de hoje. A importância fundamental dos pais no tratamento psiquiátrico de seus filhos.

Já falei em posts passados sobre a sua importância no brincar e criar, mas agora quero falar sobre curar. Pois, verdade seja dita, uma criança ou adolescente doente é por causa de ambientes familiares e escolares doentes. Sim, essa é uma verdade inegável e vamos entender o motivo aqui e agora.

O Papel dos Pais no Diagnóstico e Tratamento

Quando se trata de saúde mental infantil, os pais desempenham um papel crucial desde o início do processo de diagnóstico até o tratamento contínuo. A observação atenta dos pais pode ser a primeira linha de defesa na identificação de sinais precoces de problemas de saúde mental. Porém, muitas vezes os pais estão dentro de suas atividades diárias que não se atentam aos próprios filhos, suas realidades e mudanças. Por isso, gosto de enfatizar que mudanças no comportamento, alterações no humor, dificuldades na escola e interações sociais são algumas das áreas onde os pais podem notar indícios de que algo não está bem.

A colaboração ativa dos pais com profissionais de saúde mental é essencial para um diagnóstico preciso e um tratamento eficaz. Gosto de dizer que isso envolve fornecer informações detalhadas sobre o comportamento da criança, histórico familiar e quaisquer eventos significativos que possam ter impactado a saúde mental do jovem. Além disso, a presença e o apoio dos pais em consultas e terapias podem oferecer segurança à criança, promovendo um ambiente de confiança e abertura.

Infelizmente, a maioria dos pais estão tão focadas em si e recusam-se a cuidar. Apenas “jogam” a responsabilidade no psiquiatra, no pedagogo, na psicóloga, no professor e assim por diante. É tudo culpa dos terceiros. Porém, é o ambiente que promove a saúde ou a doença. Por isso, gosto de ressaltar na maioria dos casos que os pais também precisam de tratamento. Para, aí sim, cuidarem de seus pequenos com qualidade e atenção que precisam.

E falando em ambiente familiar no tratamento psiquiátrico de jovens, vamos falar mais sobre ele.

Ambiente Familiar e Saúde Mental

Eu sempre digo em consultas ou em palestras que o ambiente familiar exerce uma influência poderosa sobre a saúde mental de crianças e adolescentes. Um lar caracterizado por apoio, compreensão e estabilidade pode servir como um refúgio seguro, promovendo o bem-estar psicológico e emocional. Já. por outro lado, ambientes familiares disfuncionais, marcados por conflitos constantes, falta de comunicação ou negligência emocional, podem contribuir significativamente para o surgimento ou agravamento de problemas de saúde mental.

E aqui vem uma responsabilidade forte! Para criar um ambiente familiar saudável, é essencial que os pais cultivem uma atmosfera de respeito e empatia. Isso inclui estabelecer limites claros e consistentes, enquanto se mantém flexível e aberto às necessidades emocionais dos filhos. A prática da escuta ativa, onde os pais realmente prestam atenção ao que seus filhos estão dizendo, sem julgamentos ou interrupções, é fundamental para construir confiança e segurança emocional. Não concorda?

Além disso, é importante que os pais demonstrem comportamentos saudáveis de gestão de estresse e resolução de conflitos. Crianças e adolescentes aprendem observando os adultos ao seu redor, e pais que modelam habilidades saudáveis de enfrentamento estão, na verdade, ensinando seus filhos a lidar com suas próprias emoções de maneira construtiva.

Por fim, eu indico a promoção de momentos de qualidade em família, como refeições conjuntas, atividades recreativas e discussões abertas. Dessa forma, fortalecendo os laços familiares e criando um ambiente propício ao desenvolvimento emocional saudável. Ao investir tempo e esforço na criação de um ambiente familiar positivo, os pais não apenas melhoram a saúde mental de seus filhos, mas também contribuem para a resiliência emocional de toda a família.

Comunicação Eficaz entre Pais e Filhos

A comunicação eficaz é o segredo de um relacionamento saudável entre pais e filhos, especialmente quando se trata de questões de saúde mental. Portanto, estabelecer um canal aberto e honesto de comunicação ajuda a construir confiança e segurança, permitindo que crianças e adolescentes se sintam à vontade para expressar suas preocupações e emoções.

Para melhorar a comunicação, é fundamental que os pais pratiquem a escuta ativa. Isso significa dar total atenção ao que o filho está dizendo, sem interrupções ou julgamentos, e responder de maneira que demonstre compreensão e empatia. Inclusive para entender o que acontece na escola e em outros ambientes familiares. As crianças tendem a contar o que as incomoda de um jeito mais lúdico. Portanto, prestar a atenção sem julgamentos é importante.

Além disso, pratique uma comunicação mais empática. Use frases como “Eu entendo como você se sente” ou “Parece que isso é importante para você” podem validar os sentimentos do jovem e encorajá-lo a compartilhar mais.

Além disso, gosto de ressaltar que é importante adaptar o estilo de comunicação à idade e ao nível de desenvolvimento da criança ou do adolescente. Enquanto crianças mais novas podem precisar de explicações mais simples e diretas, adolescentes podem se beneficiar de discussões mais profundas e colaborativas. Manter um tom calmo e respeitoso é essencial, mesmo em momentos de conflito ou desacordo.

Última dica para vocês pais é que também devem estar atentos à comunicação não verbal. Gestos, expressões faciais e o tom de voz podem transmitir tanto quanto as palavras faladas. Demonstrar abertura e acolhimento através da linguagem corporal pode ajudar a criar um ambiente onde os filhos se sintam seguros para se expressar.

Por fim, é importante que os pais reservem tempo regularmente para conversas significativas com seus filhos, longe das distrações do dia a dia. Esses momentos dedicados não apenas fortalecem o vínculo familiar, mas também oferecem oportunidades valiosas para os pais acompanharem o estado emocional e mental de seus filhos, permitindo intervenções precoces quando necessário.

Educação e Sensibilização dos Pais

A educação contínua e a sensibilização dos pais são elementos críticos no tratamento psiquiátrico de crianças e adolescentes. Pois, compreender as nuances das condições de saúde mental e as melhores práticas para apoiar seus filhos pode capacitar os pais a serem aliados eficazes no processo terapêutico.

  1. Compreensão das Condições de Saúde Mental: É vital que os pais se informem sobre o diagnóstico específico de seus filhos. Isso inclui conhecer os sintomas, as causas potenciais e os tratamentos disponíveis. Livros, artigos, workshops e cursos online são recursos valiosos que podem fornecer informações atualizadas, mas sempre verifique as fontes e as datas.
  2. Participação em Programas de Educação para Pais: Muitos centros de saúde mental oferecem programas de educação para pais, que podem incluir palestras, seminários e grupos de discussão. Assim como o blog do Instituto Alceu Giraldi. Esses projetos são criados para equipar os pais com habilidades práticas e estratégias para lidar com desafios comportamentais e emocionais.
  3. Desenvolvimento de Habilidades de Enfrentamento: Aprender a gerenciar o estresse e a desenvolver habilidades de enfrentamento é essencial para os pais. Técnicas como mindfulness, meditação e exercícios de respiração podem ajudar a manter a calma e a clareza em situações difíceis.
  4. Conexão com Redes de Apoio: Estabelecer conexões com outros pais que enfrentam desafios semelhantes pode oferecer apoio emocional e prático. Grupos de apoio, tanto presenciais quanto online, proporcionam um espaço para compartilhar experiências, trocar conselhos e encontrar solidariedade.
  5. Atualização Constante: A área de saúde mental está em constante evolução, com novas pesquisas e abordagens terapêuticas surgindo regularmente. Manter-se atualizado sobre essas mudanças permite que os pais façam escolhas informadas sobre o cuidado de seus filhos.

Ao investir em sua própria educação e sensibilização, os pais não apenas melhoram sua capacidade de apoiar seus filhos, mas também contribuem para um ambiente familiar mais compreensivo e resiliente. Aliás, percebe a quantidade de vezes que uso a palavra ambiente?

Um tratamento psiquiátrico completo para crianças, jovens e adolescentes

Para que consigamos ter uma visão mais prática e com melhores resultados para nossos jovens. A melhor forma é uma combinação entre o tratamento psiquiátrico do jovem, onde entramos com medicação quando necessário. Dessa forma, amenizando sintomas e ajudando na condução do tratamento. Porém, é importante que o ambiente mude para que eles mudem. Um ambiente insalubre pode afetar negativamente a vida de um jovem. Ou até levando ao seu término. Inclusive, porque eles não tem ferramentas emocionais para lidar com ambientes desgastados, sem comunicação e, algumas vezes, hostil.

Os pais precisam educar a si mesmos, fazer terapia e compreender sua situação atual para que possam educar e ensinar seus filhos. O exemplo conduz os jovens e eles sempre estão se inspirando em seus pais, pelo certo ou o errado.

Portanto, quer ajudar seu filho? Seja presente, escute, promova um momento bom em família e por fim, se necessário, agende uma consulta. Terei o maior prazer em ajudar.

Dra. Camilla Alves

Dra. Camilla Alves

Pós-graduada em psiquiatria e especialista em infância e adolescência, sua paixão é cuidar da saúde mental dos pequenos. Sua maior realização como profissional é trazer de volta o sorriso tão encantador de uma criança e a gargalhada de um adolescente. Porém, não deixa um adulto sair sem ao menos ver o brilho da vida voltando a ele.

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