Seu filho tem TDAH? Psiquiatra responde!

Está cada vez mais comum termos diagnósticos de TDAH em crianças, jovens e adolescentes. Porém, infelizmente muitos destes diagnósticos estão equivocados e nem são colocados pelo profissional certo. A verdade é que muitas vezes a criança só está sendo criança, mas por falta de orientação, conhecimento dos pais, da escolha e até fatores como açúcar e excesso de tela (televisão, celular, tablet e computador) estão alterando drasticamente o humor e a concentração das crianças.

Por exemplo, dar doses cavalares de açúcar obviamente deixa a criança mais agitada e desfocada. Pois, os pais, geralmente, para “agradar” a criança dão quantidades altas para um corpo que já possui muita energia. Além disso, a tela influencia diretamente no humor da criança e poucos se atentam a isso. Mas vamos explorar o TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade) de maneira mais profunda para que você cuide de seu filho da maneira correta.

Primeiramente eu quero explorar o que é o TDAH na visão da psiquiatria e depois nos aprofundamos em diagnóstico e tratamento, combinado?

O que é TDAH?

Gosto de dizer que o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) é um dos transtornos neuropsiquiátricos que está sendo mais frequentemente diagnosticado. Inclusive já virou piada e memes entre jovens e adultos. Infelizmente o TDAH não é uma brincadeira como imaginam e as consequencias são mais severas do que as brincadeiras inocentes revelam.

O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade possui 3 sintomas principais: a desatenção, a hiperatividade e a impulsividade. Vamos entendê-los um pouco.

Desatenção

Crianças com Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade frequentemente enfrentam uma série de desafios que afetam sua capacidade de concentração e execução de tarefas. Pois, elas podem ter dificuldade em manter a atenção tanto em atividades rotineiras quanto em tarefas mais lúdicas, o que frequentemente resulta em erros por descuido, especialmente em trabalhos escolares ou outras atividades. Isso não é por falta de capacidade, mas sim uma característica do transtorno que as faz parecer desatentas ou como se não estivessem escutando quando alguém lhes dirige a palavra diretamente.

Além disso, essas crianças podem ter dificuldades para seguir instruções e concluir tarefas ou obrigações, o que está diretamente ligado a problemas de organização. Dessa forma, atividades que exigem esforço mental prolongado costumam ser evitadas ou realizadas com relutância, pois exigem um nível de concentração que pode ser difícil de manter.

Também é comum que percam objetos necessários para suas atividades diárias, como brinquedos, materiais escolares ou mesmo itens pessoais, devido à desatenção. Elas são facilmente distraídas por estímulos externos, tornando o ambiente ao redor um desafio constante para manter o foco.

Por fim, o esquecimento frequente em suas atividades cotidianas é outra manifestação do TDAH, complicando ainda mais a gestão de suas rotinas e responsabilidades. Essa combinação de fatores pode impactar significativamente suas interações e desempenho acadêmico, ressaltando a importância de estratégias de apoio adequadas.

Hiperatividade

A hiperatividade em crianças com TDAH se manifesta de várias maneiras, frequentemente observadas no comportamento físico e na forma como as crianças interagem com o ambiente. Por isso, gosto de dizer que essas crianças tendem a agitar constantemente as mãos ou os pés, ou se remexerem na cadeira, mesmo quando deveriam estar paradas. Mas atenção! Somente isso, pode apenas significar tédio, falta de estimulo ou uma vontade inquietante de sair do lugar. Dessa forma, é comum vê-las levantarem-se em momentos que exigem que permaneçam sentadas, como durante uma aula ou um jantar em família, demonstrando uma dificuldade em ficar quietas por períodos prolongados.

Além disso, elas podem correr ou escalar em situações inadequadas, onde tal comportamento não é esperado, como dentro de casa ou em locais públicos. Essa necessidade de movimento constante é um dos traços mais visíveis da hiperatividade, porém também é um comportamento natural de uma criança. E a sua constância, rotina e hábitos devem ser analisados.

Outro ponto que gosto de trazer é quando se trata de lazer, muitas vezes elas apresentam uma incapacidade de brincar em silêncio ou de se envolver calmamente em atividades recreativas.Por isso, é comum que pareçam estar sempre “a mil” ou agirem como se tivessem um “motor” interno, impulsionando-as a se manterem em atividade quase constante. Aí, posso afirmar que essa energia incessante pode ser desafiadora tanto para a criança quanto para aqueles ao seu redor, exigindo compreensão e paciência para lidar com essas características de maneira construtiva. E a educação dos pais e educadores precisa estar afinada para saber interagir nestes momentos.

Impulsividade

Por fim, a impulsividade também é uma característica de crianças, jovens ou adolescentes com TDAH e se reflete em seu comportamento diário de várias maneiras. Enfatizo que uma das manifestações mais comuns é a tendência de dar respostas precipitadas antes mesmo que as perguntas sejam completamente formuladas. Isso ocorre porque a criança frequentemente age sem pensar, movida por uma urgência interna que a leva a responder de forma imediata.

Além disso, essas crianças encontram grande dificuldade em esperar pela sua vez, seja em atividades escolares, jogos ou mesmo em conversas. Assim, essa impaciência pode levar a interrupções frequentes, onde a criança se intromete nas conversas ou atividades dos outros, muitas vezes sem perceber que está fazendo isso de forma inoportuna. Essa falta de controle sobre a impulsividade pode causar frustrações tanto para a criança quanto para aqueles ao seu redor, tornando essencial o desenvolvimento de estratégias para ajudá-la a moderar suas respostas e aprender a esperar com paciência.

O verdadeiro impacto do TDAH nas crianças

O impacto do Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) exerce um impacto significativo em várias áreas da vida de uma criança, afetando não apenas seu desempenho acadêmico, mas também suas relações sociais e familiares. Por isso, vamos trazer para nossa consciência como o TDAH influencia cada um desses aspectos cruciais do desenvolvimento infantil.

Primeiro na Educação

No ambiente educacional, crianças com TDAH frequentemente enfrentam desafios distintos. Pois é na escola que as crianças aprendem a se desenvolver socialmente, além de aprender as matérias propostas pelo ensino.

A dificuldade em manter a atenção pode levar a um rendimento inconsistente nas atividades escolares. Pois, a desatenção traz perdas de detalhes importantes durante as aulas, resultando em notas mais baixas e um entendimento limitado do material ensinado. Além disso, a hiperatividade pode causar problemas comportamentais, como a incapacidade de permanecer sentado durante a aula, gerando interrupções que afetam tanto a criança quanto seus colegas.

Já a impulsividade, por sua vez, pode levar a respostas rápidas e incompletas, dificultando o aprendizado e a interação em sala de aula. Esses desafios podem contribuir para sentimentos de frustração e baixa autoestima, tanto para a criança quanto para os educadores que buscam apoiar seu progresso.

Relacionamentos com Amigos

No âmbito social, o TDAH pode complicar a dinâmica das amizades, pois crianças com TDAH podem ter dificuldade em interpretar e responder adequadamente a sinais sociais. Dessa forma, pode resultar em mal-entendidos ou conflitos com seus amigos e colegas.

Outro ponto importante é que a impulsividade pode levar a interrupções nas brincadeiras ou conversas, causando irritação ou afastamento por parte dos amigos. Além disso, a dificuldade em regular emoções pode tornar a criança com TDAH mais propensa a reações exageradas, o que pode impactar negativamente na formação de vínculos duradouros. Esses desafios podem levar ao isolamento social, afetando ainda mais a autoconfiança da criança, além de abrir espaço para outros sentimentos como inadequação e até a depressão.

Relacionamentos Familiares

Dentro do contexto familiar, assim como nos relacionamentos, o TDAH pode criar tensões significativas. Assim, os sintomas do transtorno, como desatenção e impulsividade, podem tornar difícil para a criança obedecer a rotinas e normas familiares, resultando em conflitos frequentes com os pais e irmãos.

Os pais podem se sentir sobrecarregados ou frustrados ao tentar lidar com comportamentos desafiadores, o que pode impactar a dinâmica familiar geral. E sem o conhecimento correto, pode acarretar em discussões e brigas desnecessárias.

Também é importante ressaltar que a necessidade constante de supervisão e suporte adicional pode também desgastar emocionalmente os pais, tornando essencial a implementação de estratégias de gerenciamento de comportamento e comunicação eficaz. No entanto, com compreensão e apoio adequados, é possível criar um ambiente familiar que não apenas acomode as necessidades da criança, mas que também promova um desenvolvimento positivo e harmonioso.

Viu, nem tudo é perdido quando temos informação certa e orientação, não é mesmo?

Diagnóstico errado de TDAH

O diagnóstico correto do Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) é crucial para garantir que as crianças recebam o suporte adequado. No entanto, diagnósticos errados são uma preocupação significativa. Quero explorar os motivos por trás desses erros e as consequências que podem resultar deles.

Algumas das razões médicas para diagnósticos incorretos

Aqui no consultório está ficando comum receber adultos e crianças diagnosticados de forma errada como TDAH. Pois, muito do comportamento, ou sintomas, do Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade pode ser confundido com outras questões.

Por exemplo, há outras condições que compartilham o mesmos sintomas como a ansiedade, a depressão e a própria dificuldade de aprendizagem. Como exemplo ter um paciente que é disléxico e está tendo péssimo rendimento escolar, seu comportamento é de inquietude em sala de aula, pois está sofrendo para conseguir ler e entender algumas coisas. Porém, o diagnóstico mais simples foi o de TDAH, o que não resolveu seu problema e só amenizou sintomas.

Sinceramente pessoal, médico está aqui para ajudar, para tratar e não para amenizar sintomas, concorda?

Por isso, outro problema são os diagnósticos rápidos ou baseados em avaliações superficiais sem considerar o histórico completo da criança, relatos dos pais e observações de professores que podem resultar em conclusões precipitadas. Além de causar um impacto negativo superior.

Outro ponto são as pressões educacionais e sociais, pois em algumas situações, a pressão para encontrar uma explicação para dificuldades acadêmicas ou comportamentais pode levar a um diagnóstico precipitado de TDAH sem uma investigação adequada de outras causas. E essa é uma grande parceira do erro.

Por fim, há a variabilidade no comportamento infantil, pois as crianças naturalmente apresentam uma ampla gama de comportamentos, e o que é considerado “normal” pode variar muito. Isso pode levar a interpretações errôneas de comportamentos típicos de desenvolvimento como sintomas de TDAH. E, sendo sincera, muitas vezes precisamos visitar a mente dos pais e sua capacidade de cuidar de uma criança, do que a própria criança, jovem ou adolescente em si.

O tratamento inadequado ou impreciso

Cada pessoa tem um tratamento específica para ela, pois cada pessoa é única em sua história e complexidade. E, nossa consulta de quase 1 hora tem a finalidade de investigar e traçar as corretas estratégias para que isso não aconteça.

Dessa forma, voltando a falar do tratamento inadequado de TDAH. O erro pode levar ao uso de medicamentos desnecessários e que podem acarretar em efeitos colaterais indesejados, além de não abordar a real necessidade da criança.

Outro ponto é que o diagnóstico errado pode levar ao estigma. Ou seja, a criança começa a ser percebida de forma diferente pelos colegas, professores e até mesmo familiares. E isso pode impactar de forma incalculável em sua autoestima e motivação.

Por fim, ainda podemos ter a oportunidade de tratar o correto e as outras condições que se tornam negligenciadas no processo. Dessa forma, atrasando intervenções que poderiam ser mais benéficas para o desenvolvimento da criança, jovem ou adolescente.

O papel dos pais na educação de crianças com TDAH

Se você é mãe ou pai de uma criança com TDAH, você desempenha um papel vital na educação e no desenvolvimento dela. Por isso, vamos conversar sobre algumas estratégias eficazes que podem ajudar a melhorar o foco e a concentração, além de destacar a importância do seu envolvimento e da comunicação eficaz.

Estratégias para melhorar o foco e a concentração

Quando se trata de ajudar seu filho a manter o foco, uma abordagem estruturada pode fazer maravilhas. Por isso, criar um ambiente doméstico que minimize distrações é um ótimo ponto de partida. Isso pode significar ter um espaço de estudo dedicado, longe de TVs e outros aparelhos eletrônicos. Manter uma rotina diária consistente também é essencial, pois a previsibilidade pode ajudar seu filho a se preparar mentalmente para as tarefas.

Além disso, dividir tarefas maiores em partes menores e mais gerenciáveis pode ajudar seu filho a não se sentir sobrecarregado. Para cada tarefa concluída, não se esqueça de oferecer elogios e recompensas, pois o reforço positivo é uma ferramenta poderosa para motivar e manter o engajamento. Além disso, encoraje pequenas pausas entre as tarefas para ajudar a restaurar a concentração.

A importância do envolvimento parental e da comunicação eficaz

Seu envolvimento na educação do seu filho com TDAH é crucial. Isso significa não apenas estar presente nas reuniões escolares, mas também colaborar ativamente com professores e profissionais que acompanham seu filho. Por isso, incentivo a troca de informações regularmente com os educadores. Pois, isso pode ajudar a alinhar estratégias e adaptar abordagens que beneficiem seu filho.

A comunicação eficaz também é fundamental dentro de casa. Assim, mantendo um diálogo aberto com seu filho sobre suas experiências e desafios na escola pode ajudá-lo a se sentir apoiado e compreendido. Escutá-lo atentamente e validar seus sentimentos criará um espaço seguro para ele expressar suas preocupações.

Além disso, manter uma comunicação clara e aberta com os outros membros da família pode garantir que todos estejam na mesma página sobre as necessidades e estratégias adotadas. Assim, isso pode incluir reuniões familiares regulares para discutir o que está funcionando e o que pode ser ajustado.

Lembre-se, como pai ou mãe, você é o maior defensor do seu filho. Seu apoio contínuo e a implementação de estratégias eficazes podem fazer uma diferença significativa na vida acadêmica e pessoal dele.

Orientações sobre TDAH

Nos dias de hoje há muita desinformação. Acredita que há até influencers de TDAH, depressão e ansiedade? Pessoas que tem ou dizem sofrer desses transtornos e dão dicas para ajudar os outros. Porém, eu afirmo que o que funciona para um, não funciona para todos!

Aqui mesmo, posso ter o caso de dois irmãos, diagnosticados com TDAH de forma correta, mas o tratamento para um difere do outro, apesar de algumas estratégias em casa serem similares.

Por isso, é importante conversar sempre com um bom médico psiquiatra para ter as informações corretas sobre o tratamento e diagnóstico seja de um adulto ou criança. Assim, aqui no Instituto Alceu Giraldi, temos diversos especialistas como psiquiatras e psicólogos para ajudar de forma instrutiva e correta, nos desafios do Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade, o TDAH. Entre em contato e descubra mais como podemos te ajudar.

Dra. Camilla Alves

Dra. Camilla Alves

Pós-graduada em psiquiatria e especialista em infância e adolescência, sua paixão é cuidar da saúde mental dos pequenos. Sua maior realização como profissional é trazer de volta o sorriso tão encantador de uma criança e a gargalhada de um adolescente. Porém, não deixa um adulto sair sem ao menos ver o brilho da vida voltando a ele.

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