Há anos que a psiquiatria é vista como consultas apenas em casos extremos ou internações clínicas. O médico psiquiatra é consultado apenas em crises ou em momentos limiares onde o paciente já perdeu muitas oportunidades e qualidade de vida. Dessa forma, com uma imagem criada, muitas vezes pelas mídias — filmes e séries que rotulam os pacientes psiquiátricos e seus transtornos como “loucos” — acabam afastando a verdadeira função da psiquiatria dos pacientes. Além disso, fazendo muitos pacientes chegarem ao consultório na defensiva, tornando-se o próprio antagonista do tratamento.
O psiquiatra tem a função de restaurar e reestabilizar o controle e a qualidade de vida e do cotidiano do paciente. Assim, fazendo com que ele tenha mais energia, mais atenção e foco, para atuar em sua profissão, vivenciar momentos com a família e ter qualidade nas atividades que pratica.
“Se não fossem os remédios que a psiquiatria dá, se não fosse isso, eu não teria conseguido fazer 20% do que fiz.”
— Chico Anysio, 2021
A busca pela Saúde Mental
As patologias mentais são invisíveis! Diferente de uma doença que necessita de um acompanhamento constante, por exemplo, as patologias de campo mental são invisíveis e ganham corpo ao longo do tempo de forma, algumas vezes imperceptíveis. Dessa forma, depressão, ansiedade, TOC e alguns outros transtornos surgem em nossas vidas e vamos nos adaptando à situação atual. Horas acreditamos que é o momento, outrora nem percebemos que há algo errado com a gente.
Porém, o prolongar (e ignorar) desses sintomas pode afetar diretamente diversas áreas da vida. Geralmente começando pelo lado profissional e ganhando forma no convívio social e familiar. Além disso, quanto mais tempo a pessoa fica sem algum tipo de olhar profissional para uma leve patologia, mais desafiador se torna o seu tratamento. Há pessoas que passam anos sem se tratar, pois acreditam que está tudo bem. Vamos falar disso mais para a frente.
Apesar disso tudo, a psiquiatria está para a saúde mental mais do que para a doença. O psiquiatra quer que seu paciente viva sua vida com plenitude e com total capacidade de cumprir suas funções. Depressão, ansiedade, pânico, insônia, TOC e muitos outros transtornos causam limitações na vida da pessoa.
Mas, se traz muitos benefícios, por que as pessoas não consultam um Psiquiatra?
Existem muitas razões para o paciente evitar o consultório psiquiátrico. Porém, existem duas grandes barreiras para o agendamento de consultas. A primeira delas está relacionado ao histórico do paciente e a segunda com suas crenças e significados.
Na primeira, o paciente muitas vezes já passou por profissionais da área da saúde mental e teve péssimas experiências. Pois, em determinadas situações o profissional não conseguiu explorar profundamente os desafios do paciente, não conseguiu fazer uma conexão profissional-paciente, interpretou de forma equivocada alguma fala e assim por diante. Acontecem estes fatores, não podemos negar. É por isso que aqui no Instituto Corpo & Mente, nossas consultas tem em média uma hora de duração, seja online ou presencial. Dessa forma, trazendo esse lado mais investigativo e conectivo para o tratamento mais certeiro.
O outro ponto está vinculado a crenças e significados que as pessoas dão para a psiquiatria e ao tratamento psiquiátrico. Pois, muitos acreditam que serão criticados por estarem fazendo algum tipo de tratamento. Sentem que serão julgados pela sociedade ou até mesmo rotulados como “loucos”. Assim, preferem viver uma vida limitada, com disfunções e distúrbios ao contrário de viverem sua vida em toda sua potencialidade.
“A pessoa que nega a doença [mental] é a pessoa que tem medo de ser tachada de maluca.”
— Chico Anysio
O tratamento começa entendendo que você pode viver melhor.
Chico Anysio, como já citado nesse texto, foi um profissional que todos poderiam dizer que é um humorista e que vivia uma vida plena. Porém, a vida artística é repleta de desafios e com patologias mentais é mais desafiadora ainda. Chico sofria de depressão e fez acompanhamento por muitos anos, foram mais de 24 anos observando, analisando e traçando estratégias para que ele conseguisse desempenhar suas funções de maneira adequada.
A lista de famosos é imensa. Jim Carrey, também comediante, se afastou em 2015 para cuidar de sua saúde mental. Justin Bieber, o famoso cantor, cancelou sua turnê pela América Latina, pois começou a ter pensamentos suicidas e resolveu priorizar a si mesmo.
Whindersson Nunes se afastou da mídia para cuidar de si dizendo: “Apesar de tudo de bom que vem acontecendo comigo, de tudo que já conquistei, eu me sinto há alguns anos triste”. Dessa forma, escolheu se afastar para tratar de si, cuidar de sua depressão, que falava abertamente em sua redes sociais.
John Mayer, o cantor anda com ansiolíticos, pois teme ter ataques de pânico. Emma Stone tinha ataques frequentes de pânico e ansiedade da infância, que amenizou após terapias e acompanhamento psiquiátrico.
E a pessoa comum?
Não são somente os famosos que vivem algum tipo de distúrbio. 1 a cada 8 pessoas que você conhece ou encontra sofre com algum tipo de patologia mental. Observe esta proporção! Porém, nem todos são capazes de compreender que possuem algum tipo de distúrbio ou não conseguem reconhecer o impacto em seu cotidiano. Alguns por ainda estarem no início ou serem leves, outros por estarem acostumados a sua situação.
O trabalho, os abusos e o abandono estão entre os principais focos de origem de uma doença psiquiátrica. Porém, para não sermos tachados de loucos, negligenciamos nossa saúde mental, que responsável por diversas de nossas funções físicas, mas também de desempenho social e profissional.
Portanto, ouso questionar, se a loucura real é daquele que não quer cuidar de si mesmo.
Preconceitos contra o psiquiatra, aquele cara que só quer dar remédio.
Um dos grandes mal entendidos dentro do universo da psiquiatria é que o médico só quer dar remédio ou enriquecer a indústria farmacêutica. Porém, aqui está um grande conceito mal elaborado. Muitas vezes, um profissional não tem tempo hábil para avaliar um paciente ou para desenvolver estratégias eficazes de tratamento e rotina. Dessa forma, ele usa o remédio para suavizar os sintomas.
Aqui no Instituto Corpo & Mente, nós também usamos remédios. Porém, como nossas consultas são mais longas e temos tempo para investigação e desenvolvimento de plano de tratamento, o remédio é uma das táticas dentro de um tratamento. Muitas vezes ele é um acelerador para o bem-estar, para possibilitar que outros mecanismos sejam possíveis. Por exemplo, um paciente que é dependente químico precisa de um remédio que o ajude com a se estabilizar para que outras estratégias que envolvem alteração de rotina, hábitos e reintrodução à vida social sejam possíveis.
Assim, o remédio tem sua função, porém não é em todos os casos. Principalmente se o paciente escolher tratar suas patologias no início. Ansiedade, depressão e muitas outros transtornos, se tratados logo no começo, não necessitam de remédios e é mais suave para trazer de volta a qualidade de vida do paciente.
Reafirmo, a função do psiquiatra é restaurar a qualidade de vida de seus pacientes.
Recriando a psiquiatria na mente da população
Cuidar da saúde mental deveria ser prioridade, pois essa poderia impedir muitas outras doenças. A OMS — Organização Mundial da Saúde — colocou no seu plano até 2030 que a saúde mental é prioridade para os governos de todos os países. Estimasse que, em 2019, antes da Pandemia, mais de 970 milhões de pessoas viviam com algum distúrbio mental, sendo 31% de ansiedade e 28,9% de depressão.
Crianças e Adolescentes lideram casos de Ansiedade e Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperativiade (TDAH), ou seja, as novas gerações já estão vindo como ansiedade, pânico e outras disfunções como “normal” e isso é aterrorizante. Os pais muitas vezes não sabem nem o que fazer quando seus filhos tem surtos, por exemplo. Um despreparo que muitas vezes atrapalha um futuro tratamento. Por isso, a importância de, nos primeiros sinais, consultar um psiquiatra.
O ser humano se adapta…
Ao bom e ao ruim, a gente se adapta. Nosso cérebro e corpo são estruturas incríveis que se adaptam a qualquer situação. Se colocado a pequenos níveis de estresse constantemente, ele desenvolve o novo normal e acredita que está tudo bem. Assim, se colocado em uma nova situação de plenitude e boa qualidade de vida, ele também se adapta.
Porém, essa constante adaptação, que está vinculado ao nosso instinto de sobrevivência, atrapalha quando falamos de uma doença mental que é invisível. Aceitamos, aceitamos e a cada dia que aceitamos, ela se penetra mais em nosso cotidiano. Dessa forma, vivemos uma vida menor, mais limitada e até punitiva, que acaba gerando casos de autoflagelação ou suicídio. Porque chegar a esse nível se há pessoas que podem ajudar?
Seu próximo passo!
Você pode ser uma pessoa que está sofrendo com algum tipo de distúrbio mental, talvez seja a pessoa que reconhece o transtorno em um colega ou familiar. Porém, o próximo passo é olhar para si e pensar se está vivendo a vida por completo e buscar entender se realmente há um distúrbio.
Aqui, no Instituto Corpo & Mente, temos o prazer de ter pacientes que chegam e não possuem nenhum sinal do distúrbio, como uma ansiedade e tristeza momentânea. Assim como em alguns casos temos pacientes que veem cedo para identificar e começar um tratamento eficaz com estratégias leves e práticas. Porém, também temos casos mais pesados onde a consciência da não conformidade demorou para ser apresentada.
Gosto de ressaltar que nós médicos psiquiatras, psicólogos, terapeutas e afins estamos para ajudar nossos pacientes a viver uma vida melhor, e não para medicá-los. Sem falar que o remédio não irá transformar sua personalidade ou mudar seu comportamento. Você será você, mas melhor. Assim como o exemplo do Chico Anysio. Falaremos sobre os remédios, seus benefícios e desafios, em outro post.
Espero que esse texto tenha feito sentido para você e despertado a vontade de cuidar da saúde mental. Eu e a equipe do Instituto Corpo & Mente aqui em São Caetano do Sul, estamos prontos para lhe ajudar independente do tempo ou quadro que você apresentar.
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Material para ler (em inglês):
Entrevista do Chico Anysio para Associação Brasileira de Psiquiatria, 2021: