Compreendendo os vícios: o que a ciência nos diz?

Você já se perguntou por que algumas pessoas parecem não conseguir parar de beber, jogar ou comprar, mesmo quando isso traz consequências negativas? Ou por que certos comportamentos se tornam tão irresistíveis, a ponto de dominar a vida de alguém?

Se você ou alguém próximo está lidando com um vício, saiba que a compreensão é o primeiro passo para se reorganizar e tratar. Claro que há vícios mais fáceis de serem tratados e outros mais complexos. Por exemplo, drogadição é um vício que mexe com a química do corpo de uma maneira bem profunda. Porém, eu fico feliz de informar que tudo tem solução.

Porém, aqui no Instituto Alceu Giraldi, vemos diariamente como os vícios afetam a saúde mental e a vida das pessoas. Além disso, também vemos como o tratamento adequado e a cooperação psiquiátrica e psicológica pode trazer mudanças significativas para a vida de pessoas e famílias.

Hoje, quero compartilhar com você o que a ciência nos diz sobre vício. Um tema, muitas vezes, mal compreendido.

O que são vícios?

Primeiramente, vamos entender o que está por trás da palavra vício!

Vícios são comportamentos repetitivos que uma pessoa sente dificuldade em controlar, mesmo quando causam danos à sua saúde, relacionamentos ou vida profissional. Eles podem envolver substâncias, como álcool e drogas, ou comportamentos, como jogos, compras e até alimentação. Mas o que leva alguém a desenvolver um vício?

Do ponto de vista neurobiológico, os vícios estão relacionados a alterações no sistema de recompensa do cérebro. Quando fazemos algo prazeroso, nosso cérebro libera dopamina, um neurotransmissor que nos faz sentir bem. Em pessoas com vícios, esse sistema se torna desregulado, fazendo com que a busca pelo prazer se torne compulsiva.

Ok, mas como o cérebro reage aos vícios?

Imagine que o cérebro é como uma cidade com várias estradas. Em uma pessoa sem vício, as estradas são bem sinalizadas e o tráfego flui de forma equilibrada. Já em alguém com vício, algumas estradas ficam congestionadas, enquanto outras são pouco usadas. Isso acontece porque o vício altera a forma como o cérebro processa recompensas e toma decisões.

Substâncias como álcool e drogas aumentam a liberação de dopamina, criando uma sensação intensa de prazer. Com o tempo, o cérebro se adapta e passa a precisar de doses maiores para sentir o mesmo efeito, levando à tolerância. Além disso, a memória do prazer associado ao uso da substância ou comportamento se torna tão forte que o cérebro passa a priorizar essa busca, mesmo quando há consequências negativas.

Vícios comportamentais: além das substâncias

Quando pensamos em vícios, é comum lembrar de álcool e drogas, não é mesmo? No entanto, comportamentos como jogos, compras e alimentação também podem se tornar viciantes. Esses vícios comportamentais compartilham mecanismos neurobiológicos semelhantes aos das substâncias.

Por exemplo, jogos de azar ativam o sistema de recompensa do cérebro de forma semelhante ao uso de drogas. A expectativa de ganhar, mesmo que raramente aconteça, libera dopamina e reforça o comportamento. Da mesma forma, compras e alimentação podem se tornar formas de aliviar o estresse ou escapar de emoções difíceis, criando um ciclo de dependência.

O impacto dos vícios na saúde mental

Os vícios não afetam apenas o cérebro; eles têm um impacto profundo na saúde mental e emocional. Pessoas com vícios muitas vezes enfrentam sentimentos de culpa, vergonha e baixa autoestima, o que pode agravar quadros de depressão e ansiedade. Além disso, o isolamento social e os conflitos familiares são comuns, aumentando o sofrimento emocional.

Você já se perguntou por que é tão difícil parar, mesmo quando se quer? O vício cria uma dependência não apenas física, mas também psicológica. A pessoa pode sentir que precisa da substância ou comportamento para lidar com a vida, o que torna a recuperação um desafio complexo.

Tipos de vícios: uma visão abrangente

Aqui, quero compartilhar alguns tipos de vícios e como eles afetam nossa vida. Uma forma abrangente. Depois, vamos nos aprofundando em cada um desses vícios para a gente ter total compreensão de nossas situações, não é mesmo? Além disso, ressalto que não existem apenas esses, coloquei os mais “vistos” aqui no consultório atualmente.

Álcool

O álcool é amplamente consumido em diversas culturas, mas seu uso excessivo pode levar ao alcoolismo, uma condição crônica que afeta milhões de pessoas. O vício em álcool pode começar de forma sutil, com o aumento gradual do consumo em situações sociais, até se tornar uma necessidade diária. Os efeitos do abuso de álcool são devastadores: danos ao fígado, como cirrose, problemas cardiovasculares, e impacto no sistema nervoso central, levando a déficits cognitivos e alterações de humor.

Além dos efeitos físicos, o alcoolismo pode causar problemas sociais, como conflitos familiares e dificuldades no trabalho. O risco de acidentes de trânsito e comportamentos violentos também aumenta significativamente. Se você ou alguém próximo consome álcool regularmente, observe sinais como a incapacidade de parar de beber e o aumento da tolerância à bebida.

Drogas

Drogas como cocaína, heroína e metanfetaminas são conhecidas por seu alto potencial de vício. Elas agem diretamente no sistema de recompensa do cérebro, liberando grandes quantidades de dopamina, o que gera uma sensação intensa de prazer. Com o tempo, o cérebro se adapta e requer doses maiores para alcançar o mesmo efeito, levando à dependência.

O uso prolongado dessas substâncias pode causar danos cerebrais permanentes, afetando a memória, a tomada de decisões e o controle emocional. Além disso, o vício em drogas está frequentemente associado a problemas legais, isolamento social e risco de overdose. É crucial estar atento a sinais como mudanças drásticas de comportamento, isolamento e problemas financeiros inexplicáveis.

Jogos

O vício em jogos é uma preocupação crescente, especialmente entre jovens e adultos que passam horas jogando em consoles como Xbox, PlayStation ou no computador. Esse comportamento pode se tornar um vício quando o jogo começa a interferir nas atividades diárias, responsabilidades e relacionamentos pessoais.

O vício em jogos é caracterizado por uma necessidade compulsiva de jogar, mesmo quando há consequências negativas. Isso pode incluir a negligência de estudos, trabalho e interações sociais. O prazer imediato e a sensação de conquista proporcionados pelos jogos ativam o sistema de recompensa do cérebro, liberando dopamina e criando um ciclo de dependência. Aliás, podemos afirmar aqui que eles são perfeitamente construídos para isso, não?

Pessoas com esse vício podem apresentar sinais como irritabilidade quando não conseguem jogar, perda de interesse em outras atividades e isolamento social. Além disso, o uso excessivo de videogames pode levar a problemas de saúde física, como sedentarismo, distúrbios do sono, problemas posturais e visuais.

É importante estar atento a esses sinais e buscar equilíbrio. Estabelecer limites de tempo para jogar, buscar outras atividades de lazer e, se necessário, procurar apoio profissional são passos fundamentais para lidar com o vício em videogames.

Inclusive, quero deixar aqui um post incrível sobre benefícios e malefícios dos jogos, escrito pela Dra. Lílian Félix.

Compras

O vício em compras, ou oniomania (transtorno de compras compulsivas), é caracterizado por um impulso incontrolável de comprar, muitas vezes seguido de arrependimento e culpa. Esse comportamento pode ser uma forma de lidar com emoções negativas, como ansiedade e depressão, mas leva a um ciclo de endividamento e estresse emocional.

Pessoas com esse vício podem esconder compras dos familiares, acumular dívidas e sentir uma necessidade constante de adquirir novos itens, mesmo quando não há necessidade. Se você ou alguém próximo apresenta esses sinais, é importante buscar apoio para entender as causas subjacentes desse comportamento.

Comida

A compulsão alimentar é um vício comportamental que envolve o consumo excessivo de alimentos, mesmo quando não há fome. Está frequentemente associado a transtornos alimentares, como bulimia e transtorno de compulsão alimentar periódica. Esse vício pode levar a problemas de saúde, como obesidade, diabetes e doenças cardiovasculares.

Pessoas com compulsão alimentar podem comer grandes quantidades de comida em um curto período, seguidas de sentimentos de culpa e vergonha. Esse comportamento é muitas vezes uma forma de lidar com emoções difíceis, e pode ser desencadeado por estresse, tristeza ou tédio.

Como lidar com os vícios: caminhos para a recuperação

Se você ou alguém próximo está enfrentando um vício, é importante saber que a recuperação é possível. O primeiro passo é reconhecer o problema e buscar ajuda. Aqui no Instituto Alceu Giraldi, acreditamos em uma abordagem integrada, que combina tratamento médico psiquiátrico e psicoterapia.

A psicoterapia, por exemplo, ajuda a identificar e mudar padrões de pensamento que levam ao vício. Grupos de apoio, como Alcoólicos Anônimos, oferecem um espaço seguro para compartilhar experiências e encontrar suporte. Além disso, medicamentos podem ser usados para reduzir os sintomas de abstinência e diminuir o desejo pela substância ou comportamento.

Temos excelentes casos de sucesso de abstinência de álcool, drogas e até jovens encontrando seu propósito de vida e reduzindo consideravelmente os jogos.

Esperança e transformação

Compreender os vícios é o primeiro passo para superá-los. A ciência nos mostra que o vício é uma condição complexa, mas tratável. Com apoio adequado, é possível reconstruir a vida e encontrar novos caminhos de prazer e satisfação.

Você já pensou em como seria sua vida sem o peso do vício? Que tal dar o primeiro passo hoje mesmo? Se precisar de ajuda, conte conosco no Instituto Alceu Giraldi. Estamos aqui para ouvir, apoiar e caminhar ao seu lado nessa jornada de transformação.

Dr. Thiago Dias

Dr. Thiago Dias

Médico Psiquiatra, Terapeuta Gestalt e Co-fundador do Instituto Corpo & Mente. Após muitos anos trabalhando com patologias mentais e ajudando seus clientes a voltarem para sua vidas, compreendeu que o sucesso de seus pacientes acontece quando olham para a saúde, qualidade de vida e bem-estar. Assim, facilitando o tratamento e remissão.

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