A importância do sono para nossa mente e saúde

Você já parou para pensar que passamos cerca de um terço de nossas vidas dormindo? Não é por acaso que frequentemente recebo pacientes em meu consultório aqui no Instituto Alceu Giraldi que chegam com uma queixa aparentemente simples: “Doutor, eu não consigo dormir bem”. No entanto, conforme nossa conversa se aprofunda, descobrimos que por trás dessa dificuldade está um universo complexo de consequências que afetam profundamente nossa saúde mental e física.

O sono não é apenas um período de descanso passivo, como muitos acreditam. Na verdade, durante essas horas preciosas, nosso cérebro trabalha intensamente, consolidando memórias, eliminando toxinas e restaurando nossa capacidade de enfrentar um novo dia. Já percebeu que em dias que dorme pouco, você não tem o mesmo ânimo e disposição? Além disso, já percebeu que você acaba até fraquejando em suas decisões. Por exemplo, escolhendo alimentos mais gordos e açucarados, ou então escolhendo a diversão versus o trabalho. Pois é…

Dessa forma, neste texto quero abordar com você a importância fundamental do sono para nossa saúde mental, os impactos devastadores da insônia em nossas vidas e estratégias práticas para reconquistar noites reparadoras. Por fim, você descobrirá quando é o momento certo de buscar ajuda profissional.

O que acontece em nosso cérebro enquanto dormimos

Durante o sono, nosso cérebro executa uma verdadeira “faxina neurológica”. Gosto de imaginar nosso cérebro como uma grande biblioteca que, durante o dia, acumula informações, experiências e até mesmo “lixo metabólico”. Por isso, à noite, esse sistema bibliotecário entra em ação, organizando as informações importantes nas prateleiras certas (isso chamamos de consolidação de memória) e descartando o que não serve mais.

Eu sempre explico aos meus pacientes que o sono possui diferentes fases, cada uma com sua função específica. Durante o sono REM (Rapid Eye Movement), processamos emoções e consolidamos aprendizados. Já no sono profundo, nosso corpo produz hormônios essenciais e nosso sistema imunológico se fortalece. Por isso, podemos afirmar que uma noite mal dormida não é apenas cansaço – é uma oportunidade perdida de restauração integral.

Até vou dar um exemplo de um amigo, não paciente, que sempre adoece ao passar 2 madrugadas trabalhando. Ele tem uma empresa que precisa atuar na noite e sempre retorna na madrugada. Porém, ele não para e o que acontece depois? Ele fica doente, gripado e nauseado. Além disso, perde produtividade. Qual a solução? Acertar o sono e dormir, quem sabe até mudar a estratégia de sono ou da empresa, mas isso é assunto para outro artigo.

Mas, vamos lá… aqui na clínica, frequentemente vejo pacientes que relatam dificuldades de concentração (inclusive se autodiagnosticando com TDAH), irritabilidade e até mesmo sintomas que podem ser confundidos com depressão ou ansiedade, quando na verdade a raiz do problema está na qualidade do sono. Essa conexão entre sono e saúde mental é mais profunda do que imaginamos.

Os efeitos devastadores da privação do sono

Agora preciso ser direto com você: a falta de sono crônica é um dos problemas mais subestimados da sociedade moderna, e suas consequências são alarmantes. Quando não dormimos adequadamente, nosso cérebro simplesmente não consegue funcionar em sua capacidade máxima.

Do ponto de vista neurológico, a privação do sono afeta diretamente o córtex pré-frontal, região responsável pela tomada de decisões, controle emocional e função executiva. É como se você tentasse dirigir um carro com os freios danificados – tecnicamente possível, mas extremamente perigoso.

Infelizmente vejo isso constantemente em meu consultório: pacientes que desenvolvem transtornos de ansiedade ou episódios depressivos que têm como gatilho inicial a insônia crônica.

As pesquisas são categóricas: pessoas que dormem menos de 6 horas por noite têm 30% mais chances de desenvolver obesidade, 48% mais risco de doença cardíaca e um aumento significativo na probabilidade de desenvolver diabetes tipo 2. Mas os impactos psicológicos são ainda mais preocupantes. A privação do sono aumenta em até 60% o risco de desenvolver depressão e multiplica por três as chances de ter transtornos de ansiedade.

Por isso, acredito que tratar a insônia não é luxo – é necessidade básica de saúde pública. Quando negligenciamos nosso sono, estamos, literalmente, encurtando nossa vida e comprometendo nossa qualidade mental.

Inclusive, uma curiosidade: você sabia que a privação de sono foi utilizado como método de tortura por muitos países? Não precisava “machucar” a pessoa, apesar de estar fazendo um dano no cérebro, apenas deixá-la sem dormir. E você, se torturando sozinho, não é mesmo?

Como a insônia sequestra nossa mente

Agora vamos falar da insônia, que é quando queremos dormir e não conseguimos.

A insônia é como um ladrão silencioso que rouba nossa capacidade de ser nós mesmos. Observo um padrão consistente: pacientes insones frequentemente desenvolvem um ciclo vicioso onde a preocupação com o sono piora ainda mais a qualidade do descanso.

Neurobiologicamente, quando não dormimos bem, nosso sistema límbico (centro emocional do cérebro) torna-se hiperativo, enquanto nossa capacidade de regulação emocional diminui drasticamente. É como se nosso “termostato emocional” estivesse quebrado. Resultado? Reagimos de forma desproporcional a situações cotidianas, ficamos mais irritados, ansiosos e com nossa autoestima comprometida.

A insônia também afeta nossa capacidade de formar novas memórias e acessar informações já armazenadas. Quantas vezes você já esqueceu palavras simples ou teve dificuldade para se concentrar após uma noite mal dormida? Isso acontece porque o hipocampo, estrutura cerebral fundamental para a memória, funciona de forma precária quando estamos privados de sono.

Aqui no Instituto Alceu Giraldi, já chegamos a atender pacientes que chegam achando que têm demência precoce ou algum problema cognitivo grave, quando na verdade estão apenas sofrendo os efeitos da insônia crônica. A boa notícia é que esses efeitos são reversíveis com o tratamento adequado.

A ciência por trás do sono reparador

Para entender como melhorar nosso sono, precisamos primeiro compreender o que acontece quando dormimos adequadamente. Durante um ciclo de sono completo, que dura aproximadamente 90 minutos, nosso cérebro passa por diferentes estágios, cada um essencial para nossa restauração.

No estágio 1, temos o sono leve, uma transição entre vigília e sono. No estágio 2, nossa temperatura corporal diminui e nossa frequência cardíaca desacelera. Os estágios 3 e 4 representam o sono profundo, quando nosso corpo libera hormônio do crescimento e consolida memórias declarativas. Por fim, o sono REM é quando processamos emoções e consolidamos aprendizados complexos.

Por isso, podemos afirmar que qualidade é mais importante que quantidade. É melhor dormir 6 horas com todos os ciclos completos do que 8 horas de sono fragmentado. Eu sempre explico aos meus pacientes que nosso objetivo não é apenas “apagar” por algumas horas, mas sim permitir que nosso cérebro execute todos esses processos restauradores fundamentais.

Neurocientificamente, sabemos que durante o sono profundo, nosso sistema glinfático – uma espécie de “sistema de limpeza” do cérebro – remove toxinas acumuladas durante o dia, incluindo proteínas relacionadas ao Alzheimer. Não é fascinante como nosso corpo tem essa sabedoria intrínseca?

Você já sabia tudo isso sobre seu cérebro?

Estratégias práticas para reconquistar o sono

Depois de anos tratando pacientes com distúrbios do sono, posso afirmar categoricamente que a insônia tem solução. Contudo, a abordagem deve ser sistemática e baseada em evidências científicas. O primeiro e mais importante passo é entender que a insônia se corrige, principalmente, através da regulação do horário de acordar, não do horário de dormir.

Eu sempre recomendo aos meus pacientes que estabeleçam um horário fixo para acordar, mesmo nos finais de semana. Isso porque nosso relógio biológico interno (ritmo circadiano) se sincroniza melhor com a luz solar matinal do que com a escuridão noturna. Ainda mais que agora vivemos com diversas luzes e telas, não é mesmo? É como acertar um relógio – você precisa de um ponto de referência consistente.

Outro aspecto fundamental que observo frequentemente em meu consultório é o uso excessivo de telas antes de dormir. A luz azul emitida por smartphones, tablets e televisões suprime a produção de melatonina, nosso hormônio natural do sono. Por isso, recomendo fortemente que você desligue todos os dispositivos eletrônicos pelo menos uma hora antes de se deitar. Na minha experiência, pacientes que seguem essa orientação relatam melhora significativa em apenas uma semana. Além disso, gosto de sugerir a leitura de um livro. O livro ajuda a dispersar a mente e induz o sono mais rápido. Se é de ficção ou não, fica a seu critério.

Vejo também que criar um ritual de relaxamento antes de dormir funciona como um “sinal” para nosso cérebro de que é hora de desacelerar. Pode ser aqui a leitura leve que comentei, um banho morno ou técnicas de respiração. O importante é que seja sempre a mesma sequência, criando uma associação neurológica entre essas atividades e o sono.

A higiene do sono: seu protocolo para noites reparadoras

A higiene do sono é um conjunto de práticas baseadas em evidências científicas que otimizam nossa capacidade natural de adormecer e manter um sono reparador. Eu costumo explicar aos meus pacientes que é como criar um “manual de instruções” personalizado para seu próprio sono.

O ambiente físico é crucial. Seu quarto deve ser escuro, silencioso e com temperatura entre 18 e 21 graus. Nosso corpo naturalmente diminui a temperatura para induzir o sono, então um ambiente muito quente atrapalha esse processo. Invista em cortinas blackout e considere usar protetores auriculares se necessário.

A alimentação também desempenha um papel fundamental. Evite refeições pesadas, cafeína e álcool nas 4 horas antes de dormir. Embora o álcool possa inicialmente causar sonolência, ele fragmenta nosso sono durante a madrugada, impedindo que alcancemos os estágios mais profundos e reparadores.

Por isso, acredito que seguir essas orientações de higiene do sono é o primeiro passo para qualquer pessoa que deseja melhorar sua qualidade de vida. Pensando nisso, desenvolvemos um guia completo de higiene do sono que você pode baixar gratuitamente. Este material contém estratégias detalhadas e práticas que têm ajudado centenas de nossos pacientes a reconquistar noites tranquilas.

Quando buscar ajuda profissional

Embora muitas dificuldades de sono possam ser resolvidas com mudanças no estilo de vida, é importante reconhecer quando é necessário buscar ajuda especializada. Frequentemente recebo pacientes que passaram anos tentando resolver a insônia sozinhos, quando na verdade precisavam de intervenção profissional. Imagina quanto de vida, de oportunidades e de memórias essas pessoas perderam por relutar por essa busca. E nem estou falando de você ME procurar, escolha o profissional que mais faça sentido para você. Aqui no Instituto temos diversos profissionais, mas você é quem deve sentir confiança e escolher que irá te ajudar.

Você deve considerar buscar ajuda psiquiátrica se a insônia persiste por mais de três semanas, mesmo seguindo rigorosamente as práticas de higiene do sono. Outro sinal de alerta é quando a dificuldade para dormir começa a afetar significativamente seu desempenho no trabalho, relacionamentos ou humor durante o dia.

Também é importante estar atento se você acorda frequentemente durante a noite, tem pesadelos recorrentes ou se sente extremamente cansado mesmo após uma noite “completa” de sono. Esses podem ser sinais de distúrbios do sono mais complexos, como apneia do sono ou transtornos relacionados ao ritmo circadiano.

Aqui no Instituto Alceu Giraldi, nossa abordagem é sempre integrativa. Não acreditamos apenas em prescrever medicamentos para dormir – nosso objetivo é identificar e tratar as causas raiz da insônia, seja ela ansiedade, depressão, estresse crônico ou outros fatores subjacentes. Às vezes, a insônia é o primeiro sintoma de um transtorno mental que precisa ser adequadamente diagnosticado e tratado.

Outros profissionais que podem auxiliar em sua jornada

O tratamento da insônia frequentemente beneficia-se de uma abordagem multidisciplinar. Além do psiquiatra, outros profissionais podem ser fundamentais em sua recuperação. O psicólogo, por exemplo, é essencial para trabalhar técnicas comportamentais específicas para insônia, ajudando a modificar padrões de pensamento que perpetuam o problema.

Pneumologistas especializados em medicina do sono são cruciais quando suspeitamos de apneia do sono ou outros distúrbios respiratórios durante o sono. Já os endocrinologistas podem ser necessários se houver desequilíbrios hormonais afetando seu padrão de sono, especialmente em mulheres durante a menopausa ou em pessoas com disfunções da tireoide.

Nutricionistas também desempenham um papel importante, pois nossa alimentação influencia diretamente a qualidade do sono. Eles podem ajudar a identificar alimentos que estão prejudicando seu descanso e criar um plano alimentar que favoreça noites reparadoras.

Por isso, podemos afirmar que o tratamento eficaz da insônia muitas vezes requer uma “equipe” de profissionais trabalhando em conjunto. Na minha experiência, pacientes que seguem essa abordagem integrada têm resultados significativamente melhores e mais duradouros.

Sua jornada rumo a noites reparadoras começa agora

Se você chegou até aqui, é porque reconhece a importância fundamental do sono para sua saúde mental e física. Quero que você saiba que a insônia não é uma sentença permanente – é um problema que tem solução quando abordado adequadamente.

Lembre-se de que reconquistar um sono reparador é um processo gradual que requer paciência e consistência. Não espere resultados milagrosos do dia para a noite. Na minha experiência clínica, a maioria dos pacientes começa a notar melhorias significativas após 2 a 4 semanas seguindo rigorosamente as orientações de higiene do sono.

Acredito firmemente que você merece dormir bem e acordar revigorado todos os dias. Seu sono não é um luxo – é uma necessidade básica que impacta todos os aspectos de sua vida. Se as estratégias que discutimos não trouxerem os resultados esperados, não hesite em procurar ajuda profissional.

Aqui no Instituto Alceu Giraldi, estamos prontos para ajudá-lo nessa jornada. Seja de forma presencial ou online. Nossa abordagem integrativa considera não apenas seus sintomas, mas você como um ser humano completo, com suas particularidades, história e necessidades únicas. Porque acreditamos que cada pessoa merece ter acesso a noites tranquilas e dias produtivos.

Não deixe mais a insônia roubar mais tempo de sua vida.

Dr. Thiago Dias

Dr. Thiago Dias

Médico Psiquiatra, Terapeuta Gestalt e Co-fundador do Instituto Corpo & Mente. Após muitos anos trabalhando com patologias mentais e ajudando seus clientes a voltarem para sua vidas, compreendeu que o sucesso de seus pacientes acontece quando olham para a saúde, qualidade de vida e bem-estar. Assim, facilitando o tratamento e remissão.

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