Além de instrutor de Mindfulness, minha principal atuação é como psicólogo clínico, há 15 anos, debruço meus estudos e curiosidade para entender a psique em seus variados contextos, adversidades e como superar os desafios.
Facilitando cursos introdutórios ao Mindfulness me dei conta que as ferramentas aprendidas têm pontos em comum com a psicoterapia que auxiliam meus clientes no processo, em seus desafios pessoais.
Christopher K. Gemer comenta que existem modelos a serem adotados no setting terapêutico, o primeiro modelo envolve a regulação da atenção, a fim que ela seja mantida na experiência imediata, a segunda instância envolve adotar uma orientação caracterizada pela abertura, curiosidade e aceitação.
Como diz John kabat Zinn: mindfulness é o estado de alerta que emerge por meio da atenção, intencional, no momento presente e no desenrolar da experiência momento a momento.
Mindfulness é uma experiência que não deve ser aprendida apenas intelectualmente, ela precisa ser vivida e sentida.
E senti-la é muito simples, leve a atenção para seu corpo e pergunte-se:
- Como está meu corpo nesse momento?
- O que estou sentindo?
- Como estou respirando?
A capacidade de regular a atenção estando alerta no contexto clínico é fundamental, assim como desenvolver o não julgamento, a aceitação, bondade e compaixão.
Na prática clínica, a compaixão é um convite para adentrar nas emoções ou experiências desafiadoras, se o terapeuta, assim como o cliente se afastam de uma experiência desagradável as chances de lidar com o que está acontecendo diminui.
A aceitação é a capacidade de lidar com a experiência do jeito que ela é, no momento presente, sendo prazerosas ou dolorosas, a autoaceitação é o convite para a mudança de comportamento. Me arrisco a dizer que mindfulness é o cultivo da aceitação radical, os fenômenos que simplesmente são como são neste momento e se algo lhe desagrada é exatamente nesse momento que podemos tomar consciência, do que estamos plantando para um vir-a-ser.
A experiência em Mindfulness implica em estarmos abertos para a experiência, presente com aceitação. Assim podemos perceber o que está surgindo exatamente nesse momento e o que está indo embora. O movimento do ir e vir, acontece o tempo todo, respeitando os ritmos da natureza, sístole/diástole, nascer/morrer, abrir/fechar, inspirar/expirar.
A prática de Mindfulness em si mesma é bem simples e natural, acredito que o maior desafio é a continuidade da prática ou Sati que significa lembrar de praticar, a prática quando incorporada no dia a dia tende a aliviar grande parte do sofrimento, dando espaço para a sabedoria e compaixão.
Dalai Lama entende que a compaixão é uma capacidade de abrir-se ao sofrimento, para liberá-lo, assim surge a sabedoria interna.
A prática de Mindfulness nos liberta daqueles pensamentos repetitivos, ruminação mental que são em grande parte ativação da tristeza, essa se cultivada por longo período, pode desencadear um estado depressivo. Desta forma a prática nos ensina a lei da impermanência, ou seja, tudo está mudando o tempo todo, podemos entender que nós criamos sofrimento lutando contra a realidade do momento presente.
A concentração ajuda a cultivar uma mente calma e tranquila, a atenção se foca em determinado objeto ou fenômeno, repetidas vezes, assim a mente desvia-se dos pensamentos que não correspondem ao momento presente, como por exemplo a preocupação ou a ansiedade.
Hoje em dia nesse mundo frenético, as pessoas estão sendo multitarefas, fazendo tantas coisas de uma só vez, sendo inquietas e agitadas. A capacidade de atenção delas é extremamente pequena.
Muitas pessoas me dizem que é “difícil” manter a atenção no presente. Eu digo, quantos anos de sua vida, se percebe ansioso e desatento?
Claro que requer um tempo, um treinamento para mudarmos os hábitos e os condicionamentos que levam a mente para outros lugares. E a melhor forma para mudarmos os condicionamentos é a prática diária. Faça o teste sempre que perceber que a mente divaga diga: “viajei” e leve a atenção para seu corpo ou para a respiração, essas são grandes âncoras para o momento presente. Com o passar do tempo você pode encontrar outras âncoras para o momento presente, como visão, paladar, olfato, tato, etc. Mas para quem é iniciante em meditação, saiba que a mente pode divagar, porém o corpo e a respiração estão sempre ancorados no presente. E com o passar do tempo, de forma gradativa o esforço vai diminuindo para manter-se no presente, até tornar-se natural, e essa é nossa verdadeira natureza.
Assim, Tarchin Hearn nos lembra que a atenção e concentração surgem naturalmente e sem esforço sempre que existem interesse e curiosidade.
A consciência só pode existir no momento presente qualquer outra possibilidade é ilusão, viver um mundo ilusório e desconexo, pode levar a disfunções ou transtornos emocionais. Como por exemplo transtornos ansiosos ou depressivos.
Como saber se um sintoma virou transtorno? A principal percepção é notar se seu comportamento está te prejudicando. Como não conseguir se concentrar em uma atividade por alguns minutos, ficar irritado e explosivo com facilidade, choro fácil, esses são exemplos e indicativos que o copo está transbordando, e quanto antes a procura por alguma ajuda ou tratamento, maior são as chances de prevenção contra prejuízos ainda mais graves.
Pratique sempre a consciência plena em qualquer lugar onde estiver e para fortalecer sua atenção tire alguns minutos por dia para sua prática pessoal. O resultado geralmente acontece muito rápido, logo perceberá que a compaixão lhe deixará com o coração e a mente leve, aceitando os acontecimentos, para uma vida em paz com presença e propósito.