Ansiedade e redes sociais: como lidar sem prejudicar sua mente


Você já se pegou rolando o feed do Instagram, sentindo uma mistura de curiosidade, inveja, alegria e, de repente, uma pontinha de ansiedade? Se sim, saiba que você não é a única pessoa. Como psiquiatra e alguém que observa diariamente o impacto das redes sociais na saúde mental dos meus pacientes, posso afirmar: as redes sociais são uma das ferramentas mais poderosas do nosso tempo. Elas conectam, informam, inspiram e, ao mesmo tempo, podem nos deixar reféns de um ciclo de comparação, cobrança e ansiedade. Mas será que é possível navegar por esse universo digital sem prejudicar nossa mente? Vamos juntos entender como encontrar equilíbrio e transformar o mundo online em um aliado, não um vilão.

O fascínio das redes sociais: por que elas nos atraem tanto?

Quando você abre uma rede social, seu cérebro é inundado por estímulos visuais, novidades e recompensas instantâneas. Curtidas, comentários e seguidores ativam áreas do nosso cérebro ligadas ao prazer, como se fosse um pequeno prêmio a cada notificação. Não é à toa que, muitas vezes, sentimos vontade de checar o celular mesmo sem motivo aparente. O mecanismo é parecido com o de um caça-níquel: nunca sabemos exatamente o que vamos encontrar, e isso nos mantém presos à expectativa.

Por trás desse fascínio, existe uma busca emocional legítima. Nós, seres humanos, somos sociais por natureza. Queremos pertencer, ser vistos e reconhecidos. Dessa forma, as redes sociais oferecem uma vitrine para mostrar conquistas, compartilhar momentos e receber validação. No entanto, quando essa busca por pertencimento se transforma em necessidade constante de aprovação, a ansiedade pode bater à porta.

Inclusive temos casos de pessoas famosas que expõem os desafios e cobrimos algumas no nosso instagram.

Ansiedade e redes sociais: onde mora o perigo?

A ansiedade, aquela sensação de inquietação, preocupação ou medo, pode ser intensificada pelo uso inadequado das redes sociais. Um dos fenômenos mais comuns é o FOMO (Fear of Missing Out), ou medo de estar perdendo algo importante. Você já sentiu aquela angústia ao ver amigos reunidos em uma festa para a qual não foi convidado? Ou ao perceber que alguém está “vivendo melhor” do que você? Esse sentimento é alimentado pelo fluxo constante de informações e comparações.

Além do FOMO, existe o FOJI (Fear of Joining In), o medo de se expor, de participar, de ser julgado. Muitas pessoas alternam entre o desejo de pertencer e o receio de não serem aceitas. Isso cria um ciclo de ansiedade: queremos estar presentes, mas tememos a rejeição.

Na minha experiência, vejo que o uso excessivo das redes sociais pode desencadear ou agravar quadros de ansiedade, insônia, baixa autoestima e até depressão. O problema não está na ferramenta em si, mas na forma como a utilizamos. Por isso, é fundamental aprender a reconhecer os sinais de alerta e buscar um uso mais consciente. Por isso, gosto sempre de ressaltar que: ou você domina a ferramenta ou ela te domina. Assim, quando acontece a segunda parte, ser dominado por ela, isso é muito perigoso.

O lado positivo das redes sociais: conexões, informação e inspiração

Apesar dos riscos, eu não acredito que as redes sociais sejam vilãs. Pelo contrário, elas têm um potencial enorme de promover bem-estar, inclusão e aprendizado. Já presenciei pacientes que encontraram grupos de apoio, informações valiosas sobre saúde mental e até oportunidades profissionais graças ao universo digital.

As redes sociais podem ser uma ponte para novas amizades, para o reencontro com pessoas queridas e para o acesso a conteúdos que ampliam horizontes. Durante a pandemia, por exemplo, vimos o quanto elas foram essenciais para mantermos o contato com o mundo, mesmo em isolamento. Lives, grupos de discussão, perfis educativos e campanhas de solidariedade mostraram o lado humano e acolhedor do ambiente online.

Por isso, podemos afirmar que, quando usadas com consciência, as redes sociais são aliadas poderosas na promoção da saúde mental. O segredo está em desenvolver uma relação saudável, baseada em limites e autocuidado.

O que você realmente busca nas redes sociais?

Antes de pensar em estratégias para reduzir a ansiedade, convido você a refletir: o que você procura quando acessa suas redes sociais? É distração, informação, validação, conexão? Muitas vezes, buscamos nas redes aquilo que está faltando em nossa vida offline. Se estamos solitários, queremos companhia. Quando estamos inseguros, buscamos aprovação. Por fim, se estamos entediados, procuramos novidade. Não é mesmo?

Reconhecer essa busca é o primeiro passo para um uso mais consciente. Quando você entende o que está procurando, pode avaliar se as redes sociais realmente estão suprindo essa necessidade ou apenas mascarando um vazio. Eu costumo dizer que as redes sociais são como um espelho: elas refletem nossos desejos, inseguranças e sonhos. Mas, assim como um espelho, podem distorcer a realidade se não soubermos olhar com atenção. Ou talvez, olhar com a perspectiva certa!

O ciclo da comparação: quando o feed vira uma armadilha

Imagine que cada postagem que você vê é como uma janela para a vida de outra pessoa. Só que, na maioria das vezes, essa janela mostra apenas o lado ensolarado, os momentos felizes e as conquistas. Raramente vemos as dificuldades, os fracassos, as dúvidas. Isso cria uma ilusão de que todos estão vivendo melhor, mais felizes, mais realizados.

Esse ciclo de comparação pode ser devastador para a autoestima. Você começa a se perguntar: “Por que eu não sou assim?”, “O que estou fazendo de errado?”. A ansiedade cresce, alimentada pela sensação de inadequação. Na clínica, vejo muitos pacientes que chegam com esse sentimento de insuficiência, como se estivessem sempre atrás dos outros.

Por isso, é importante lembrar: o que você vê no feed é só uma fração da realidade. É um quadro pintado que a pessoas escolheu mostrar, apenas aquela perspectiva. Cada pessoa tem suas lutas, suas dores, seus dias ruins. Ninguém é feliz o tempo todo, por mais que as redes sociais tentem mostrar o contrário.

O papel do psiquiatra: orientação, acolhimento e desmistificação

Como psiquiatra, meu papel vai além de prescrever medicamentos, como muitos acreditam ou tem experiências com outros profissionais. Procuro entender o contexto de vida de cada pessoa, suas relações, seus hábitos e, claro, seu uso das redes sociais. Muitas vezes, a ansiedade relacionada ao mundo online é um sintoma de questões mais profundas: baixa autoestima, necessidade de aprovação ou dificuldade em lidar com frustrações.

A escuta ativa e a validação dos sentimentos são fundamentais deste o início. Não existe “certo” ou “errado” em sentir-se afetado pelas redes sociais. O importante é reconhecer o impacto que elas têm na sua vida e buscar estratégias para lidar com isso de forma saudável.

Eu recomendo que, ao perceber que o uso das redes está causando sofrimento, você procure ajuda profissional. O acompanhamento com um psiquiatra ou psicólogo pode ser decisivo para identificar padrões de comportamento, trabalhar a autoestima e desenvolver habilidades de enfrentamento.

Estratégias práticas para lidar com a ansiedade nas redes sociais

Agora, se me permite, quero compartilhar algumas estratégias que costumo sugerir aos meus pacientes e que podem ajudar você a encontrar um equilíbrio saudável no mundo online.

Primeiro, pratique o autoconhecimento. Observe como você se sente antes, durante e depois de usar as redes sociais. Se perceber que está mais ansioso, irritado ou triste, talvez seja hora de repensar o tempo e a forma de uso.

Outra dica é estabelecer limites claros. Defina horários para acessar as redes, evite checar o celular logo ao acordar ou antes de dormir. Experimente períodos de “detox digital”, desconectando-se por algumas horas ou dias para perceber como se sente.

Procure diversificar suas fontes de prazer e conexão. Invista em atividades offline que tragam satisfação: leitura, exercícios físicos, encontros presenciais, hobbies. As redes sociais não precisam ser sua única fonte de entretenimento ou companhia.

Se possível, personalize seu feed. Siga perfis que tragam inspiração, conhecimento e bem-estar. Silencie ou deixe de seguir conteúdos que gerem comparação ou desconforto. Lembre-se: você tem controle sobre o que consome.

Por fim, pratique a autocompaixão. Seja gentil consigo mesmo. Todos nós temos momentos de insegurança, dúvidas e comparações. O importante é não se cobrar perfeição e buscar equilíbrio.

O impacto das redes sociais na saúde mental: o que dizem os estudos?

A ciência tem se debruçado sobre o impacto das redes sociais na saúde mental. Estudos recentes mostram que o uso excessivo, principalmente em adolescentes e jovens adultos, está associado ao aumento dos sintomas de ansiedade, depressão e insônia. Um artigo publicado na revista “JAMA Psychiatry” em 2023 apontou que pessoas que passam mais de três horas por dia em redes sociais têm maior risco de desenvolver sintomas ansiosos.

Por outro lado, pesquisas também mostram que o uso moderado e consciente pode trazer benefícios, como aumento do senso de pertencimento, acesso a informações de saúde e fortalecimento de redes de apoio. O segredo, mais uma vez, está no equilíbrio.

Por isso, podemos afirmar que as redes sociais são como uma ferramenta: podem ser usadas para construir ou destruir, dependendo da forma como você as utiliza.

O papel da família e dos amigos: apoio e diálogo aberto

Ninguém precisa enfrentar a ansiedade sozinho. O apoio da família e dos amigos é fundamental para lidar com os desafios do mundo online. Conversar sobre sentimentos, compartilhar experiências e buscar ajuda quando necessário são atitudes que fortalecem os laços e reduzem o estigma em torno da saúde mental.

Eu sempre incentivo meus pacientes a manterem um diálogo aberto com as pessoas próximas. Falar sobre ansiedade, inseguranças e dificuldades é um passo importante para quebrar o ciclo do silêncio e da comparação.

Se você percebe que alguém próximo está sofrendo com o uso das redes sociais, ofereça apoio, escuta e compreensão. Muitas vezes, um simples “Como você está se sentindo?” pode fazer toda a diferença.

O desafio da mente

Um ponto importante que eu gosto de ressaltar é que muitas pessoas não percebem o mal que fazem para si. A pessoa está tão imersa num problema que ela não consegue enxergar, para ela é o NORMAL. Porém, quem está fora consegue acompanhar e ver que não está.

Dessa forma, como os desafios da mentes são invisíveis e quase imperceptíveis, a abordagem deve ser leve e sutil. Trazendo para a mente da pessoa a consciência sobre sua situação atual, até que ela perceba que precisa parar e, talvez, pedir ajuda.

Quando procurar um psiquiatra ou psicólogo?

Se você percebe que a ansiedade relacionada ao uso das redes sociais está prejudicando sua qualidade de vida, seu sono, suas relações ou seu desempenho no trabalho ou nos estudos, não hesite em buscar ajuda profissional. O acompanhamento com um psiquiatra ou psicólogo pode ser fundamental para identificar as causas do sofrimento, trabalhar estratégias de enfrentamento e promover o equilíbrio emocional.

Na clínica, vejo diariamente o quanto o tratamento adequado podem transformar vidas. Não existe vergonha em pedir ajuda. Cuidar da mente é tão importante quanto cuidar do corpo. Pois, como sempre digo: buscar apoio é um ato de coragem, não de fraqueza.

Redes sociais, ansiedade e o poder da escolha

Quero encerrar este texto convidando você a refletir sobre sua relação com as redes sociais. Elas são parte do nosso mundo, vieram para ficar e podem ser grandes aliadas, desde que usadas com consciência, limites e autocuidado. Não permita que o mundo online dite seu valor ou sua felicidade. Você é muito mais do que um perfil, um número de seguidores ou curtidas.

Se sentir que está difícil lidar sozinho, lembre-se: procurar um psiquiatra ou psicólogo pode ser o primeiro passo para recuperar o equilíbrio e viver uma vida mais plena, dentro e fora das redes. Aqui no Instituto Alceu Giraldi, estamos prontos para acolher você e caminhar juntos nessa jornada.

Cuide da sua mente, valorize suas conquistas e lembre-se: o mundo real é tão importante quanto o virtual. E você merece viver bem nos dois.

Dr. Thiago Dias

Dr. Thiago Dias

Médico Psiquiatra, Terapeuta Gestalt e Co-fundador do Instituto Corpo & Mente. Após muitos anos trabalhando com patologias mentais e ajudando seus clientes a voltarem para sua vidas, compreendeu que o sucesso de seus pacientes acontece quando olham para a saúde, qualidade de vida e bem-estar. Assim, facilitando o tratamento e remissão.

Leia outros artigos