A Mente Inquieta: A bipolaridade na visão de um Psiquiatra

Você já se sentiu em uma montanha-russa emocional, oscilando entre euforia e desespero? Imagine viver assim todos os dias. Este é o mundo de milhões de pessoas que enfrentam o transtorno bipolar, uma condição que desafia nossa compreensão da mente humana.

Hoje, quero usar o livro “A Mente Inquieta“, uma autobiografia de Kay Redfield Jamison, como referência para falarmos do transtorno bipolar. Ela, uma psicóloga clínica e escritora, que foi diagnosticada com transtorno bipolar em sua fase adulta foi nomeada uma das maiores especialistas por diversas academias no mundo todo.

Por isso, quero te convidar a ler este texto de forma acolhedora, para entendermos de verdade o que é o transtorno bipolar, seus altos e baixos, e descobrir como podemos tratar o transtorno bipolar de forma correta, desde o medicamento aos cuidados da família.

Seja para você mesmo, uma pessoa querida ou simplesmente por pura curiosidade, continue lendo e vamos embarcar nessa jornada. Pois, como sempre digo, a compreensão é o primeiro passo de qualquer tratamento psiquiátrico e a melhor maneira de ajudar aqueles que amamos.

Então vamos começar entendendo o que é o transtorno bipolar.

O enigma da Bipolaridade

O transtorno bipolar é uma condição mental complexa que desafia nossa compreensão tradicional do humor e do comportamento humano. Além disso, é complicado para uma pessoa comum observar os sintomas e de primeira identificar a bipolaridade. Porém, vamos falar um pouco sobre suas características e impactos.

Definição e Características do Transtorno Bipolar

O transtorno bipolar, anteriormente conhecido como psicose maníaco-depressiva, é caracterizado por oscilações significativas no humor, energia e capacidade de funcionamento. De acordo com o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5), o transtorno bipolar é dividido em vários subtipos:

Transtorno Bipolar Tipo I:

O Tipo I é a forma mais intensa e dramática da condição. Este tipo é caracterizado por pelo menos um episódio maníaco ao longo da vida, que pode ser precedido ou seguido por episódios hipomaníacos ou depressivos maiores.

Por exemplo, imagine Maria, uma artista talentosa. Durante um episódio maníaco, ela passa dias sem dormir, pintando freneticamente, convencida de que está prestes a revolucionar o mundo da arte. Seu humor está às alturas, ela fala rapidamente e tem ideias grandiosas que parecem brotar incessantemente. Este estado de euforia e hiperatividade dura por mais de uma semana, afetando significativamente sua vida cotidiana e relacionamentos. É como se Maria estivesse em um foguete emocional, disparado para o espaço sem controle.

Este episódio maníaco pode ter vários impactos na vida da pessoa, que eu vou falar mais para frente, como por exemplo prejuízos financeiros, desgaste de relacionamentos, interferência ou pausa na carreira e alguns outros.

Transtorno Bipolar Tipo II:

Essa é uma variante menos intensa, mas não menos desafiadora. Aqui, a pessoa experimenta episódios depressivos maiores intercalados com episódios hipomaníacos, que são versões mais brandas da mania.

Pense, por exemplo, em João, um executivo bem-sucedido. Durante seus períodos hipomaníacos, João se torna extraordinariamente produtivo, dormindo pouco, mas realizando projetos com uma eficiência impressionante. Ele se sente ótimo, cheio de energia e ideias. No entanto, esses episódios são seguidos por períodos de depressão profunda, onde João mal consegue sair da cama, sente-se sem valor e perde o interesse em tudo que antes o animava. É como se João estivesse em uma montanha-russa emocional, alternando entre picos de produtividade e vales de desesperança.

Transtorno Ciclotímico:

Esta variante do transtorno bipolar é como uma versão mais suave e crônica dessa montanha-russa.

Por exemplo, imagine Ana, uma estudante universitária que há anos experimenta flutuações de humor que não chegam a ser tão intensas quanto nos outros tipos de transtorno bipolar. Por pelo menos dois anos, ela oscila entre períodos de leve elevação do humor (onde se sente mais sociável e criativa) e períodos de sintomas depressivos leves (onde se sente desanimada e tem dificuldade para se concentrar). Essas oscilações não são severas o suficiente para serem classificadas como episódios maníacos, hipomaníacos ou depressivos maiores, mas ainda assim impactam significativamente sua vida acadêmica e social. É como se Ana estivesse constantemente navegando em águas emocionais instáveis, nunca totalmente calmas, mas também nunca completamente turbulentas.

Além desses, ainda há outros transtornos bipolares especificados e não especificados. Estes são casos de bipolaridade que não atendem os requisitos acima. Porém, acredito que já temos uma ideia do que é essa transição de humor e comportamento, certo?

O impacto do transtorno bipolar na vida cotidiana

É inegável os impactos e prejuízos que as oscilações de humor e a psicose maníaco-depressiva causam na vida das pessoas e das pessoas ao seu redor.

Casamentos e amizades sofrem uma tensão superior e durante os episódios impulsivos ou irritabilidade podem causar conflitos (e até agressões e violências, infelizmente). Enquanto períodos depressivos podem levar ao isolamento social.

Na carreira e educação, a instabilidade do humor pode afetar o desempenho no trabalho ou nos estudos. Episódios maníacos podem levar a projetos grandiosos não concluídos, enquanto a depressão pode resultar em absenteísmo ou queda na produtividade.

As finanças podem receber impacto significativo durante episódios maníacos. Dessa forma, gastos excessivos e decisões financeiras impulsivas são comuns, podendo levar a sérias dificuldades econômicas.

A saúde física fica comprometida, pois o transtorno bipolar está associado a um risco aumentado de condições médicas como doenças cardiovasculares, diabetes e obesidade. Além disso, o autocuidado também fica depreciado. Pois, a manutenção de rotinas saudáveis de sono, alimentação e exercícios pode ser desafiadora, especialmente durante episódios de humor.

Percebe como a bipolaridade afeta todas as áreas da vida? Então vamos falar um pouco sobre Kay Redfield Jamison.

Nos bastidores de “A Mente Inquieta”

O livro “A Mente Inquieta” aborda a carreira e a vida de Kay Redfield Jamison. Nela, ela descreve de forma até poética seus episódios maníaco-depressivos e como afetou sua carreira e seus relacionamentos. A autora debate no livro sua relutância inicial em aceitar o diagnóstico e seguir o tratamento.

Além disso, Kay discute a sua dificuldade de aceitar a condição, além do dilema de ser uma psiquiatra com transtorno bipolar e tratando seus pacientes. Uma luta que vai além da sua capacidade médica, mas um dilema moral e ético que ela debatia consigo mesmo diariamente. Como posso eu cuidar de alguém, sendo eu, uma possa com transtorno bipolar? Esse estigma carregou por longos anos até conseguir realmente aceitar e deixando de se sentir uma fraude.

A leitura deste livro para você que possui transtorno bipolar, possui um ente querido ou é apenas um curioso, traz um detalhe sensacional que a fala aberta sobre os desafios de manter-se produtiva e focada durante os episódios depressivos, bem como os riscos de tomar decisões impulsivas durante os períodos maníacos. E, apesar disso, conseguir construir uma carreira e um relacionamento.

A narrativa que Kay Redfield Jamison traz é ao mesmo tempo crua e esperançosa, oferecendo insights valiosos não apenas sobre o transtorno bipolar, mas também sobre a resiliência humana.

Por isso, vale a pena a leitura, ok?

O transtorno bipolar na nossa sociedade

Estimasse que 2% da população mundial possua o transtorno bipolar. Muita gente, não é mesmo? O desafio é que a maioria das pessoas não conseguem fazer o diagnóstico e acham “normal”. Pois, por não ser uma condição física, que podemos ver, as pessoas acreditam ser normal, que suas mentes não possuem problemas, até termos clareza de grandes prejuízos.

Por isso, é importante analisar e diagnosticar.

Então ao perceber as oscilações de humor como otimismo excessivo e depois seguido de momentos depressivos, pensamento acelerado, diminuição de sono, dificuldade em se concentrar quando há excesso de estímulos e, principalmente, quando você diz ou escuta: “caraca, você fica mudando de humor toda hora”. Está no momento de fazer um diagnóstico com um psiquiatra de confiança.

A parte boa é que você pode fazer esse diagnóstico com seu psiquiatra de confiança, aqui no Instituto Alceu Giraldi ou até online, pois atendemos pacientes em Portugal e Canadá, por exemplo.

Portanto, deste texto quero que saia com três coisas em mente

A primeira delas é se você se sentir curioso ou curiosa, leia o livro A Mente Inquieta.
Caso queira saber mais, entre em contato com nosso instituto e fale com um dos nossos psiquiatras, temos uma equipe especializada e que terá prazer em te ajudar na sua jornada.
Por fim, cuide-se. O autocuidado, da mente, das emoções e do corpo, é essencial para essa nossa jornada.

Atendimento do Instituto Alceu Giraldi:
? R. Manoel Coelho, 848 – Centro, São Caetano do Sul – SP
?Agendamentos: (11) 9.5860.7864


Dr. Thiago Dias

Dr. Thiago Dias

Médico Psiquiatra, Terapeuta Gestalt e Co-fundador do Instituto Corpo & Mente. Após muitos anos trabalhando com patologias mentais e ajudando seus clientes a voltarem para sua vidas, compreendeu que o sucesso de seus pacientes acontece quando olham para a saúde, qualidade de vida e bem-estar. Assim, facilitando o tratamento e remissão.

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